O melhor natal da sua vida
- No mundo não há senão obras derivadas. O que existe é o excelente aproveitamento das mesmas essências, assinado por alguém com bom gosto ou mau gosto. Por sobre o retrato da influência visível ou oculta, a palavra é o espírito duplo do ego, após o drama das primeiras inspeções de mundo, até o descobrimento da escrita. A literatura, esculpida da alma generosa, some ou permanece. Não há senão obras derivadas. Presunções herméticas do ciúme. Marca. Vontade do valor material, um bentinho na carteira, um patuá...
Verificou o cansaço atencioso dos ouvintes. O escritório de patentes estava lhe causando tantas indagações quanto pesadelo sobre o mérito de cada novidade.
- Dispenso ter certeza sobre a limpeza que se deve ao mundo quanto ao “Sabão Naftalina”. Apenas com a hipótese de parecer pouco higiênico utilizar um sabonete convencional mais de uma vez...
A frase derrubada das palavras como demolição.
- Como alguém poderia limpar a pele com um produto que desaparece nas mãos antes de alcançar o rosto?
Tudo, mas tudo mesmo, principia pelo defeito da exploração imitativa. Exploração imitativa sob qualquer pretexto!
O rosto ardia no calorão da cerimônia.
- ...Somos iguais no amor. Apelou. No teatro da plenitude dos instantes rápidos da serenidade. Imbricou para o caminho poético com o dedo em riste: O amor requer paciência! Procurou espaço no sentido, fez gesto de aspas.
- O melhor mundo para se viver deveria presidir cada um de nós sem amontoados de advertências, mas com a consciência atenta naturalmente ao direito.
Nem sempre era assim e quem é que ainda falta saber? Descambou para o pior momento do falatório:
- Menos palavras, mais palavras, seleções de palavras, cuidado com elas, as palavras tiram fotografias. (Ponto alto) Quando não desenham retratos delambidos...
Sem esperar, mas acreditando na inutilidade dos discursos fora totalmente aplaudido.
“Desenham retratos delambidos!” Soou como encerramento milagroso.
De fato era o melhor natal da sua vida. A frase em casa martelava: no mundo não há senão obras derivadas. Vieram-lhe as crianças dos amigos em folia gritando na sala para ele: cara de sapo! Cara de caramujo!
- Um chiste vem de outro chiste, que venha então o Chester!
Todos aplaudiram. Todos estavam sorrindo e exclamando luzes entre brinquedos, objetos redondos, rodelas de comidas coloridas. Fogos e sinos triunfais encapelando a geografia noturna da cidade.
Ninguém sabia, mas sublimava a perda de um grande amor durante a fase natalina. Melhorava com tolices, trocadilhos, para se encantar e dar a si mesmo um ar positivo.
- O que aconteceu? Terminou o ano para inventores?
- Sim. Um bom natal deveria vir acompanhado com ceia, espumante e também carnaval. Excetuando-se as passadas horas convencionadas pela tradição digestiva...
O eco das palmas ainda eclodia como alegria em sua alma.