Desejos
de Rachel de Queiroz
Escrevi esta crônica no dia 4 de novembro de 2008, aniversário da morte da minha conterrânea Rachel de Queiroz.
Não a publiquei porque, naquela data, eu enfrentava momentos de descomunal sofrimento provocado por malditas hérnias (três) de disco. Só queria distância do computador, meu amigo de todas as horas.
Acho, entretanto, que ainda posso homenagear a saudosa escritora, publicando, com algum atraso, o que, em novembro passado, escrevera sobre ela.
Um infarto ceifou-lhe a vida, em pleno Leblon, quando ela tinha 92 anos de idade e se preparava para festejar 93. Nasceu no Ceará no dia 17 de novembro de 1910.
Era cinco anos mais nova do que meu pai, seu admirador, também nascido em 17 de novembro, mas de 1905.
Ele relembrava esta coincidência, apesar de nunca ter lido um só dos romances da autora de O Quinze.
Mas todo cabeça-chata conhece nem que seja uma pontinha da biografia de Rachel de Queiroz.
Em que pese ter deixado muito cedo o Ceará, Rachel jamais esqueceu o seu torrão natal. Vez em quando, deixava o Rio de Janeiro para alguns dias na sua fazenda Não Me Deixes, no sertão do Quixadá.
Em uma de suas crônicas, confessou: "Mas seja qual for a distância e a duração da ausência, não nos esquecemos nunca da terra velha que lá ficou, no começo da estrada."
No ano anterior à sua morte, indagada por sua irmã, Maria Luiza, se estava bem, respondeu que "só não estava melhor porque não estava no Ceará".
Na crônica Machado,Carolina e nós, declarou, expressamente, o desejo de ser enterrada na terra de Iracema. Vejam o que ela escreveu: "... quando eu me for, gostaria que me enterrassem no cemitério da Califórnia (a fazenda Califórnia), onde já está a maioria de minha gente. Junto a meu pai, junto a ele, sei que dormirei tranqüila por toda a eternidade; como dormia nos tempos de menina, quando eu chorava de insônia e ele vinha contar uma história para me embalar."
Esta crônica é de 24 de abril de 1999. Portanto, quatro anos antes de sua morte.
Tempos depois, reconsiderou o desejo de ser sepultada no chão do seu estado. Disse, então, que preferia ser enterrada ao lado do médico Oyama de Macedo, com quem fora casada durante 42 anos. E assim aconteceu: os dois descansam no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Quem sabe se um dia o Ceará não constrói um mausoléu para receber os restos mortais de sua sua filha ilustre . Não importa que, neste retorno à sua cidade natal, ela traga consigo as cinzas ou os ossos do seu dileto Oyama.
Afinal, na crônica - Machado, Carolina e nós - ao sugerir uma sepultura única para o romancista de Dom Casmurro e sua mulher Carolina, Rachel declarou: "Então por que não se juntam as cinzas no mesmo invólucro? Aí, sim, far-se-ia o encontro definitivo."
Aqui, alguns dos desejos de Rachel de Queiroz, preparando sua vida, na outra vida...
Nota - Em Fortaleza, na tradicional Praça dos Leões, que conheci mui bem cuidada nos meus tempos de solteiro, foi erguida uma estátua de Rachel.
Estou lendo que roubaram-lhe, pela terceira vez, os óculos. Como os cariocas fizeram com a estátua de Drummond. Isso não se faz; isso é vandalismo.
Protesto.
de Rachel de Queiroz
Escrevi esta crônica no dia 4 de novembro de 2008, aniversário da morte da minha conterrânea Rachel de Queiroz.
Não a publiquei porque, naquela data, eu enfrentava momentos de descomunal sofrimento provocado por malditas hérnias (três) de disco. Só queria distância do computador, meu amigo de todas as horas.
Acho, entretanto, que ainda posso homenagear a saudosa escritora, publicando, com algum atraso, o que, em novembro passado, escrevera sobre ela.
Um infarto ceifou-lhe a vida, em pleno Leblon, quando ela tinha 92 anos de idade e se preparava para festejar 93. Nasceu no Ceará no dia 17 de novembro de 1910.
Era cinco anos mais nova do que meu pai, seu admirador, também nascido em 17 de novembro, mas de 1905.
Ele relembrava esta coincidência, apesar de nunca ter lido um só dos romances da autora de O Quinze.
Mas todo cabeça-chata conhece nem que seja uma pontinha da biografia de Rachel de Queiroz.
Em que pese ter deixado muito cedo o Ceará, Rachel jamais esqueceu o seu torrão natal. Vez em quando, deixava o Rio de Janeiro para alguns dias na sua fazenda Não Me Deixes, no sertão do Quixadá.
Em uma de suas crônicas, confessou: "Mas seja qual for a distância e a duração da ausência, não nos esquecemos nunca da terra velha que lá ficou, no começo da estrada."
No ano anterior à sua morte, indagada por sua irmã, Maria Luiza, se estava bem, respondeu que "só não estava melhor porque não estava no Ceará".
Na crônica Machado,Carolina e nós, declarou, expressamente, o desejo de ser enterrada na terra de Iracema. Vejam o que ela escreveu: "... quando eu me for, gostaria que me enterrassem no cemitério da Califórnia (a fazenda Califórnia), onde já está a maioria de minha gente. Junto a meu pai, junto a ele, sei que dormirei tranqüila por toda a eternidade; como dormia nos tempos de menina, quando eu chorava de insônia e ele vinha contar uma história para me embalar."
Esta crônica é de 24 de abril de 1999. Portanto, quatro anos antes de sua morte.
Tempos depois, reconsiderou o desejo de ser sepultada no chão do seu estado. Disse, então, que preferia ser enterrada ao lado do médico Oyama de Macedo, com quem fora casada durante 42 anos. E assim aconteceu: os dois descansam no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Quem sabe se um dia o Ceará não constrói um mausoléu para receber os restos mortais de sua sua filha ilustre . Não importa que, neste retorno à sua cidade natal, ela traga consigo as cinzas ou os ossos do seu dileto Oyama.
Afinal, na crônica - Machado, Carolina e nós - ao sugerir uma sepultura única para o romancista de Dom Casmurro e sua mulher Carolina, Rachel declarou: "Então por que não se juntam as cinzas no mesmo invólucro? Aí, sim, far-se-ia o encontro definitivo."
Aqui, alguns dos desejos de Rachel de Queiroz, preparando sua vida, na outra vida...
Nota - Em Fortaleza, na tradicional Praça dos Leões, que conheci mui bem cuidada nos meus tempos de solteiro, foi erguida uma estátua de Rachel.
Estou lendo que roubaram-lhe, pela terceira vez, os óculos. Como os cariocas fizeram com a estátua de Drummond. Isso não se faz; isso é vandalismo.
Protesto.