Desejo de Vida
Não há uma pessoa sequer que tenha vivido sem ter desejado morrer, como também não houve sequer alguém que em seu leito de morte, não desejasse adiar o inevitável.
Eu poderia passar o resto dos meus dias pensando sobre esse tempo que nos devora e que nos cega. Nos consome e nos submete a um labirinto tortuoso e enigmático.
Outra vez chegou o Natal e ele nem de longe se parece com os Natais que tínhamos na infância. Essa era da informação também trouxe consigo a quebra da magia que existiu por séculos e séculos.
Quando éramos crianças, minha mãe fazia uma arrumação especial no Natal. Ela montava uma árvore prateada, artificial e colocava lá aquelas bolas coloridas de vidro, de todas as cores, bem arranjada num canto da sala grande, em cima de uma caixa acústica da vitrola do meu pai. Uma das fotos mais bonitas dessa árvore tem como coadjuvante meu irmão, que na época tinha dez meses. Uma pena a foto ser branco e preto, mas isso não importa, porque lembro de todas as cores assim mesmo.
Tínhamos o hábito de escrever e enviar cartões de Natal. Embora alguns deles tivessem apenas frases simples de Boas Festas, completávamos os espaços em branco com palavras cheias de sentimento e amizade por nossos parentes e amigos que estiveram junto da gente o ano todo. E haja trabalho para os carteiros! Recebíamos muitos cartões. Formalidade ou não, era bom lembrar e ser lembrado, ainda que uma única vez no ano. Não tinha internet e telefone era artigo de luxo, e a gente vivia e sobrevivia sem essa parafernália.
Nas noites de Natal, depois de passarmos normalmente com a família, não raros eram os momentos de confraternização com os amigos e vizinhos. Na medida do possível, todos se visitavam, ainda que fosse “um oi rápido” só para marcar presença, e mesmo sem verbalizar, dizer ao outro: olha, você é importante pra mim e hoje eu só quero que você seja feliz, e era tudo muito sincero.
Claro que como muitas outras fases na vida, também não temos recordações tão boas. A noite de Natal sem alguém que a gente ama, seja separado pela vida ou pela morte também não é fácil. A gente às vezes passa bem o ano todo e quando chega nesse dia, ah que saudade que dá, que vontade de abraçar aquele alguém só um pouquinho. E mesmo com o passar dos anos, esse sentimento não muda, ao contrário, parece que intensifica. Já que não há remédio para a distância física, o que podemos fazer é imaginar, fechar os olhos um instante e abraçar bem forte, se é a intenção que conta, onde quer que aquele alguém esteja, vai receber seu amor.
O importante é não deixar que a falta daquela pessoa que já morreu, seja também um túmulo para a gente. Já que ela não está aqui, devemos viver por ela, sorrir por ela e dedicar esses momentos de felicidade a ela. Provavelmente essa pessoa faria o mesmo se fossemos nós a termos partido em seu lugar.
Certamente você, assim como eu, tem história de sobra para falar de Natal, de alegria, de tristeza, de saudade.
Que possamos nos lembrar acima de tudo que Jesus é vivo em nós e através de nós no amor infinito que Ele manifesta em nossos corações.
Ainda que a falta de tempo em nossa vida seja irremediável, que nos sobre um pouquinho dele para estarmos com aqueles a quem amamos, pois nunca sabemos até quando fisicamente isso será possível.
Que você consiga dizer verbalmente ou mentalmente todas as boas intenções a todas as pessoas que cruzarem seu caminho e que você descubra antes de tudo, um amor infinito por si mesmo, segredo para ser feliz que o próprio Cristo pregou.
Envie um cartão, escreva um e-mail, telefone, visite, abrace, imagine.
Os gestos mais simples são capazes de verdadeiros milagres, e a VIDA é o maior deles.
Seja VIDA na VIDA de alguém
Não desperdice o bem maior que lhe foi dado e compartilhe principalmente com aqueles que deixaram de acreditar nisso.
Confiar na capacidade de viver do outro é antes de tudo já ter reconhecido essa qualidade em si mesmo.