Pô meu! Que mico eu paguei!!!
A coisa de um mês comprei uma calça jeans em uma loja, aqui na Vila Alpina, em um destes magazines em que eles colocam aquele monte de roupas dentro das gondolas espalhadas pelo interior da loja, e que o pessoal costuma dizer que a gente compra de baciada.
Usei ela durante uns três dias e coloquei para lavar. Eu não sei vocês como fazem, eu pelo menos costumo ficar de dois a três dias com uma calça. Já cueca, meia e camisa eu troco todos os dias. Não suporto ver um sujeito usando a mesma camisa durante três ou quatro dias. O camarada tem que ser muito porco para agir dessa maneira. Eu, pelo menos, sou pobre, porém sou limpinho.
Pois bém, como eu ia dizendo, coloquei a calça para lavar, e durante todo esse tempo fui usando outras calças, que aliás eu tenho várias, pois costumo no começo do ano, depois que passam as festas, fazer compras ali no Brás. È uma maravilha. Os preços que ali já são baixos, se você comprar de meia duzia prá cima, eles vendem a preço de atacado, e por isso ficam mais baixos ainda.
Só sei que dias destes resolvi colocar a calça novamente, para ir ao lançamento do livro da nossa companheira aqui do Recanto das Letras, a Jeanny Matos, que aconteceu no Tom Bar, ali na Rua Tabajaras, na Mooca, onde comemos uma deliciosa polenta frita e tomamos algumas brejas geladinhas. A festa foi uma delícia. A Jeanny com uma roupa de gala chiquérrima, toda vermelha, estava simplesmente um luxo. E sua filha Amanda, que nós continuamos amando, estava divina mararavilhosa.
Companheiros, foi aí que começou a rolar toda confusão. Assim que comecei a me trocar para ir a festa da Jeanny, eu peguei a calça e já percebi alguma coisa meio esquisito. Parecia ter encolhido. E não deu outra, a porra da calça ficou parecendo uma bermuda. Por isso que eu digo, comprar coisa barata é uma merda. No fim acaba saindo caro. Na primeira lavada ela encolheu de uma tal maneira que as pernas ficaram batendo no meio das minhas canelas, e quem dizia que eu conseguia abotoar, pois seria menos mal, caso ela abotoasse daria para usar como bermudas.
Rapaz, xinguei prá caramba. Mostrei pro pessoal lá em casa e foi uma tiração de sarro danada. Jurei que no outro dia eu iria até a loja onde havia comprado aquela porcaria e falaria um montão para o gerente daquela espelunca.
E assim o fiz. Cheguei na loja com as calças nas mãos e já fui falando um montão prá toda mundo, desde o vendedor que estava na porta até o gerente que estava lá nos fundos.
Fizeram uma roda em volta de mim tentando me acalmar. Gerente, vendedores, faxineiras, a moça do café e mais um monte de bicões, que ali estavam na hora da confusão, e encostaram para ver o que estava acontecendo.
E o que mais me irritava é que o desgraçado do gerente dizia que eu não tinha comprado a calça ali naquela loja.
----Como não!!! Olha a notinha aqui!!! - Bravejei com ele, mostrando a nota fiscal de compras.
----A nota é daqui, mas a mercadoria não! - tentava se justificar o gerente, um rapazinho de mais ou menos uns dezenove anos, que malemá tinha aprendido a limpar o rabo, e agora tentava embrulhar um "véio" de quase sessenta anos de janela. Enquanto ele vinha com o milho , eu já tinha feito a polenta a muito tempo.
Só sei que aquele bate-boca durou uns vinte minutos. Eu dizia ter comprado a calça ali, e eles diziam que não. No fim, já com o saco cheio de tudo aquilo, mandei todo mundo ir tomar no tóba e fui embora, prometendo que iria procurar os meus direitos.
Cheguei em casa espumando de tanta raiva. Estava a ponto de ter um enfarto de tão nervoso que eu fiquei.
Imaginem só, um cruzamento de pai baiano com mãe italiana, só poderia ter nascido um casca de jaca igual a eu. Fui entrando prá dentro de casa e falando até pelos cotovelos. Todo mundo ficou indignado quando eu disse que eles não quizeram trocar a calça, alegando que eu não havia comprado ela naquela loja.
Foi aí, então, que a minha sobrinha de treze anos falou:
----Deixa eu ver essa calça tio!
Ela pegou a calça da minha mão e indagou:
----Ué... o que é que o senhor está fazendo com essa calça? Essa calça é minha!!! È por isso que eu procurei ela esses dias e não achei. Eu já tinha posto a culpa na Suélem.
Meu Deus do céu! Foi aí que caiu a ficha de todo mundo. E depois de algumas explicações, descobrimos que a minha irmã, que mora com a gente, na hora de guardar as roupas que havia passado, misturou a calça da minha sobrinha com as minhas calças. A cor era igualzinha, jeans azul escuro, e o modelo era quase igual também.
Desfeito a confusão, eu tive a hombridade de voltar lá na loja, e depois de explicar o mal entendido, pedi mil desculpas pra todo mundo.
Ainda bem que eles não ficaram brabos comigo, muito pelo contrário, foi uma tiração de sarro danada, todo mundo olhando pra minha cara e se mijando de rir. Meu São Bartolomeu das calças encolhidas... que mico eu paguei!!!