" Filhos criados...
TRABALHO DOBRADO! "
A minha vida inteira ouvi esta frase. Minha mãe falava, minhas tias, as
vizinhas e por aí vai, uma geração inteira de mulheres falando sempre a
mesma coisa, principalmente depois que me casei e tive meu primeiro
filho.
Quando se comenta que filho é uma gostosura, que é uma gracinha e
tantos outros elogios que fazemos, não dá outra: tem sempre alguém
pra dizer em alto e bom tom: "Você não viu nada! Espere até que eles
cresçam; filhos criados, trabalho dobrado! Aproveita enquanto você dá
as ordens e eles obedecem direitinho!"
Tenho o maior orgulho de dizer que sou mãe coruja sim! Tenho três filhos lindos. Foram fases diferentes com cada um deles, naturalmente,
e fico me perguntando: será mesmo que tive tanto trabalho assim,
depois que eles cresceram? Vejamos: o que tem de mais em esperar um filho chegar em casa, um pouco depois das duas horas da manhã num final de semana? O que tem de mais, pedir - e ensinar - pra não deixarem toalhas molhadas em cima da cama ou na porta do guarda-roupa? O que tem de mais, pedir - e ensinar - pra não dormirem no sofá, se o quarto está tão perto? O que tem de mais, o seu filho escutar uma musiquinha enquanto faz o dever de casa? O que tem de mais, pedir - e ensinar - a fechar a tampa do vaso sanitário após o uso? O que tem de mais, pedir - e ensinar - para não deixarem a roupa suja, empilhada num canto qualquer do quarto?
... O que tem de mais?
Caramba!... É uma infinidade de ensinamentos, conselhos e pedidos. E
ainda, os tais: mandei fazer isso, mandei fazer aquilo, mandei, mandei,
mandei!...
Nada disso, minha gente. Nada é tão trabalhoso como varrer uma casa
e tirar a poeira dos móveis; sair e fazer as compras; fazer a comida e
servir a comida; arrumar a cozinha e guardar toda a louça; lavar roupa, colocar pra secar, tirar do varal e depois passar; lavar o banheiro; colocar o lixo pra fora... (Ufa! Tem muito mais, mas me recuso a dizer; cansei!). Ah! Sem se esquecer que algumas dessas tarefas são feitas TODOS OS DIAS, sempre a mesma coisa!
E agora? Qual dá mais trabalho?
Naturalmente, que a partir do momento a que nos propusemos a ter
filhos e criá-los, iremos nos preocupar com 'detalhes' que, até então,
assistíamos como filhos. São "tarefas" que, a partir daí, DECIDIMOS
ter. Algumas "OBRIGAÇÕES" que arranjamos pra nós mesmos. Mas...
como dizia Vinícius de Moraes: "Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas
se não os temos, como sabê-lo?..." (em "Poema Enjoadinho").
Hoje, meus filhos têm, respectivamente, 33, 29 e 24 anos. Três cidadãos trabalhadores, inteligentes, saudáveis, íntegros, dignos, honestos, e me arrisco a dizer que são - e estão - felizes.
Deram trabalho sim. Perdi muitas noites de sono; em contra-partida, em outras dormia quase que, instantaneamente, devido ao cansaço do dia. Ainda hoje, fico angustiada se alguma coisa não está saindo do modo como eu gostaria, mas e daí? Isso não é razão para reclamações. Isso é aprendizado! Um lindo exercício do meu 'ser' e do meu 'viver', e do qual tenho a felicidade de poder dizer de "boca-cheia": dei conta do recado!
Nessa 'altura' da minha vida, três filhos adultos, e sem falsa modéstia, bem criados, e cada qual a seu tempo buscando as próprias experiências, posso dizer que, mesmo que eu tenha de suprí-los com algum tipo de ajuda, seja financeira, seja no aspecto emocional, ou qualquer outra maneira de apoiá-los, nada disso é tão ruim quanto a experiência de ter o marido ainda em idade produtiva, se ver obrigado a requerer sua aposentadoria - antes da hora - diante de determinadas leis impostas ao trabalhador brasileiro, para o bem dos cofres públicos, e para assegurar que os grandes empresários não tenham prejuízos.
Bem... Isto é uma outra história. Um outro tema para mais um exercício e aprendizado da paciência, da tolerância, da cumplicidade e do amor, a que tenho sido submetida nos últimos oito anos. Ano que vem, quem sabe, atrevo-me a escrever a respeito!...
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