DIARIO DE UM FERROVIARIO NA CAMARA FEDERAL

Vinte dias pós perder a eleição para a prefeitura da cidade de Corumbá, no 2000, fui convocado para assumir a vaga de deputado federal, pois era suplente de Bem Hur Ferreira que voltou a MS para assumir a casa civil. A minha “derrota eleitoral” amplamente discutida e comentada por milhares de pessoas e comentada em matérias jornalísticas de pessoas que infelizmente não souberam missa metade das razões que me levaram a perder a eleição, praticamente ganha. Ou comentaram a serviço de alguma causa, não tão nobre assim.

Porém, este é um fato consumado e passado para mim, talvez se eu fosse eleito prefeito naquele ano, não estaria vivo agora e vivendo com meus filhos.

Hoje vivo na cidade de Campo Grande a mais de 450 quilômetros de minha terra natal, porém já tive muito tempo para pensar, sofrer e refletir sobre tudo que aconteceu comigo e entendo perfeitamente as razões que levaram a quase destruição total de minha vida, para que fosse “aniquilado da vida pública” da forma mais cruel e covarde possível.

Voltando a questão da Câmara Federal, imaginem um simples trabalhador ferroviário e militante simples e assalariado assumindo um cargo de Deputado Federal, num congresso onde estavam personalidades como Antonio Carlos Magalhães, Deputado Inocêncio de Oliveira, Delfim Neto (um dos ícones do antigo PDS), José Genoino, José Dirceu etc. sem falar em outras “cobras criadas” de nossa política. Lá estava eu, ao lado de Jackes Vagner da Bahia, que presidiu a mesa da Câmara no momento de minha posse.

Meu chefe de Gabinete era um poeta baiano e professor da Universidade Federal de Brasília, que foi nada mais, nada menos que Assessor do professor Florestan Fernandes, grande parte de minha sobrevivência em, Brasília-DF, em especial no Congresso e Câmara Federal, deveu-se a este apoio inestimável do professor Edson Cardoso.

Sem tomar o devido cuidado, com a fragilidade do mandato e o meu tamanho, acabei comprando algumas brigas de Cachorro Grande, como se diz, pelo fato de ignorar que na Câmara Federal e no Congresso, havia o tal de: Alto Clero e Baixo Clero, se vocês pensaram que eu, era do baixo clero, acertaram em cheio, eu imaginava que tinha o mesmo peso "dos" Zé Dirceu da vida e outros pares importantes da casa.

É claro que me arrebentei, como pobre é metido a besta, como dizem, resolvi fazer oposição a FHC, criticar Sarney, que nem ligavam para a insignificância de minha oposiçãozinha, pior é que o meu partido que era o grande “bicho da oposição” Já estava há muito tempo no pragmatismo cerrado e de olho no planalto, o líder metalúrgico visitou até FHC no planalto e já estava com o terno pronto, com faixa e tudo e o "besta" aqui achando que faria a Revolução dos Cravos.

Não percebi que até ícones importantes da esquerda já estavam na frigideira dos homens, como Heloisa, Babá, Luciana e outros que foram jogados na berlinda e viraram oposição da antiga oposição que hoje acabou virando situação e aliado de parte da situação antiga.

Ainda, fora de moda, acabei entrando com Projetos como Regulamentação de Serviços de Moto Táxi, Projetos em Defesa de aposentados e pensionistas, Defesa de Recursos para recuperação do Rio Taquari. Ainda de quebra tentei peitar o Reverendo Moon que estava avacalhando as áreas de fronteira do Brasil e do Paraguai, mal sabia que pessoas que tinha como aliados e companheiros, na verdade eram quase sócios do Reverendo coreano que se intitulava Deus.

Mas, afinal de contas não posso me culpar muito, afinal só fiquei um ano e quatro meses no mandato e ainda consegui mais de 10 milhões de verbas de emendas parlamentares e de bancada para o estado do MS. Consegui fazer mais de 100 pronunciamentos e ainda cumpri uma missão em Paris, graças ao Presidente da Câmara de Deputados, o então, Deputado Aécio Neves, hoje governador de Minas, a quem devo agradecer pela liberação, autorização e confiança.

Agradeci porque representar o nosso Brasil num país tão importante da Europa como a França, era algo impensável para um pequeno membro do Congresso e com tão pouco tempo na Câmara. Também fiquei muito feliz pelo reconhecimento do titular Ben Hur que falou muito bem de minha passagem pela Câmara e agradeço ao Corpo de Bombeiros pela comenda Dom Pedro II.

Errei muito, pois se desejava voltar a Câmara Federal, deveria ter ficado calado, não deveria tentar ser deputado federal e nem tentar defender os interesses da nação e do povo, teria que encontrar um jeito de encher o bolso e as malas de dinheiro para poder armar esquemas, comprar votos inteligentemente, como se diz e voltar para o mandato.

Mas afinal, foi muito bom, pois não, é todo dia que um trabalhador assalariado e desempregado, como eu estava à época, tem a oportunidade de assumir uma vaga na Câmara Federal. Em nosso estado do MS isso é um verdadeiro milagre.

Em outras matérias abordarei até as armações jurídicas e utilização de estruturas de poder para cercar as possibilidades de uma volta minha a um mandato eletivo em 2006, tenho certeza que muitos leitores vão adorar saber dos fatos, por quem viveu a realidade e sofreu o efeito dos fatos, ruim é ficar sabendo através de curiosos e de pessoas que infelizmente vivem do disse me disse e prestam serviços a terceiros.

Quem estudou história na universidade ou por curiosidade, sabe perfeitamente que os poderosos e pessoas que se apossaram do poder, ao longo dos séculos, acabavam contratando “escribas” para embelezarem e falarem bem de seus atos, dourarem a pílula, eu prefiro falar a realidade nua e crua, afinal ocupei um espaço, mas jamais cheguei ao poder de fato.

Até os próximos fatos. Não contar esta história seria trair as pessoas que acreditaram em mim, me deram a oportunidade de ser deputado um dia e estaria assinando o atestado de covarde. além de convalidar e aceitar tudo que disseram e ainda dizem meus inimigos e os seus serviçais contra a minha pessoa.

Enfrentei inimigos calculistas e frios, para os quais não basta tirar o que temos, eles ainda destroem a imagem e até são capazes de tirar a vida de um ser humano friamente e ainda podem ir ao velório chorar e abraçar os filhos de suas vítimas. Eles tem : "argumentos fortes" convencem tribunais e até juízes de que são inocentes e dificilmente são julgados ou pagam pelos seus roubos ou crimes. Depois de tudo que enfrentei e enfrento, agradeço a Deus a cada minuto de vida.

Manoel Vitorio
Enviado por Manoel Vitorio em 21/12/2008
Reeditado em 22/12/2008
Código do texto: T1347483