As tias, o Menino e a música dos Bigodes







            

         Edson Gonçalves Ferreira


          Natal se aproxima. O Menino já me perguntou se eu estou feliz. Expliquei para Ele que estou feliz, porque Ele está ao meu lado, mas que sinto saudades, muitas saudades de muitas pessoas. Ele também disse que, como ser humano, porque Ele assumiu a nossa fragilidade, também sentiu saudades de muita gente. Perguntei-Lhe, então, se ele tivera tias e Ele respondeu-me que sim, embora não haja muita menção nos livros sagrados. Pedi-me que eu falasse das minhas tias.
                Contei-Lhe, então, que eu tive várias tias fantásticas, começando pela minha tia-avó Henriqueta Ferreira que já conheci velhinha, com mais de 70 anos e que morreu com 106 anos. Portuguesa, fazia tricô, crochè, bordava e foi uma das primeiras professoras primárias de Divinópolis. Quando menino, desde os quatro anos, eu brincava de “roubar” livros na casa dela. Até hoje, ainda a escuto dizendo para minha mãe: _ Nita, o Edson está a roubar meus livros. Eu escondia os livrinhos na cuequinha para ler escondido. O Menino riu de rolar no chão!
             Depois, eu Lhe falei sobre a minha tia Maria da Conceição, apelidada de Tidê que era uma mulher tipo madona, reconchochuda, fofa, meiga e que tivera várias padarias e um amor desmedido para com seus filhos. Quando ela morava fora, na minha infância, era uma delícia quando ia passear na casa dela. Fazia peneiras e mais peneiras de tudo quanto era guloseima para esperar os sobrinhos. Eu saía com a Lavina para catar coquinho, enquanto Leni xingava. Era uma delícia brincar com Manoel, Tonho, Taí, Leda. Tidê era um anjo de pessoa. _Era não – retruca o Menino – é, ela está Conosco, agora.
                _Tem mais tias que você adorava, Edson? Sim, é claro, a Tia Criola também era especialíssima e a Tia Eulina também. Tia Criola cercava a gente de ternura. Tia Eulina fazia comidinhas gostosas numa panelinha pequenina e dava de comer para todos que estavam na casa. Parecia com Você, Menino, quando multiplicou os pães e os peixes na montanha. A Tia Eulina tocava violino e ela com a Tia Luiza que, agora, já vai fazer 101 anos, dançava até. Mesmo quando meus tios: João, Dé, Antenor, Rodrigo e meu pai não queriam dançar, elas largavam os violinos, enquanto a orquestra da minha família tocava e valsavam, valsavam.
                    O Menino que estava agachado ouvindo-me, ressaltou que, na Galiléia, muitas vezes, vira cenas assim, pois é costume do seu povo tocar e dançar. Disse-me que lembrava dos momentos festivos na casa de Nazaré. Seus olhinhos brilhavam. Então, expliquei-Lhe que estou com tanta saudades que, quando passo na antiga Rua da Bela Vista que, agora, se chama Rua Vicente Ferreira Valério, em homenagem a meu primo falecido, escuto os sons de bandolins, violões, violinos.
                    Parece que meu avô Joaquim Bigode e minha avó Leopoldina estão dançando ao som da orquestra feita com os filhos. Aí, o Menino me disse: _Tudo isso está vivo mesmo, Edson, no seu coração. Você não chegou nem a conhecer seu avô e sua avó, mas, espiritualmente, todos eles estão com você e desejam um Feliz Natal para você e sua primaiada. Fiquei muito feliz e quando voltei meu olhar para agradecer ao Menino por ter escutado a minha história, Ele, como sempre, sumira!






Divinópolis, 21.12.08
edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 21/12/2008
Reeditado em 14/08/2012
Código do texto: T1347411
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