Natal sem presentes
Desconfio que terei um Natal sem presentes. Papai Noel ainda não pintou no meu pedaço. Será que ele me esqueceu?
Logo eu que, apesar dos "meus cabelos cor de prata", continuo - falem o que quiserem - confirmando sua existência neste Planeta tão belo e de tantas mentiras...
Mas enquanto meus presentes (ainda os aguardo) não chegam, deixo meu gabinete e o conforto de minha redinha cearense, e saio pela cidade visitando as lojas de brinquedos; um velho costume.
Corro os shoppings e as ruas onde o comércio, no Natal, ganha intensidade e esplendor.
Enquanto circulo, observo a ansiedade que se apodera dos papais, na hora de escolherem os presentes dos seus filhotes, a mando de Papai Noel.
Vendo-os assim tão ansiosos, volto ao meu tempo de criança. E me recordo que, na minha casa, lá nos canfundós do Ceará, o Natal era sem presentes.
Eu sabia que existia um tal Papai Noel.
E que, no Natal, ele aparecia, com seu bisaco recheado de brinquedos; e, na calada noite, os distribuía entre a meninada.
Só que, pela minha casa ele não passava.
Dona Amélia, minha professora no jardim da infância, ouvindo que o generoso Noel não visitava a maioria das casas dos seus alunos, aconselhou-os a escreverem ao bom velhinho.
Obedecendo à querida Mestra, enviei dezenas de cartas para a Finlândia e para a Lapônia.
Ou elas não chegavam às mãos do Papai Noel ou ele as recebia e não as lia.
O certo é que ele continuou sem passar pela minha modesta residência sertaneja.
Minha mãe, para suprir-lhe a ausência, organizava uma suculenta ceia natalina, com tudo o que o sertão oferecia de melhor: bolos Luis Felipe e Souza Leão, pandeló, suco de frutas tropicais, pastéis, doces de caju, de goiaba, de mamão, etc., etc.
Não faltava, claro, o peru (criado no nosso galinheiro) cujo gostinho ainda sinto, volvidos mais de meio século!
Meu pai, um modesto comerciante de secos e molhados, acompanhava minha mãe, mas sempre na sua...
Ora calado, ora triste, ou as duas coisas ao mesmo tempo, ele participava da ceia sentado na cabeceira da grande mesa de jantar.
Ficava meio agastado quando eu, o filho mais velho, lhe perguntava por onde andava Papai Noel.
Até que em um desses natais, creio que no final da década de 1940, o pai resolveu abri o jogo.
Reuniu os oito filhos e lhes disse por que Papai Noel não dava um pulinho na nossa casa.
Revelou que Noel lhe "avisara" não ter presentes pra tanta gente. Oito meninos?
Desde aquele encontro cruel, deixei de escrever para Papai Noel às vésperas do Natal, como me aconselhara minha professorinha Amélia.
Os anos foram passando. Um dia, soube que Papai Noel (só aqui pra nós) era ninguém mais, ninguém menos, do que os nossos velhos pais.
Foi aí que entendi por que os meus natais de criança eram sem presentes. E o porquê do santo silêncio do meu pai, com a compreensão permanente de minha santa mãe.
*** *** ***
As horas correm, e aumenta a minha desconfiança de que meu Natal, este ano, será mesmo sem presentes.
Sem dar bolas para "as coisas terrenas", Ivone terminou de armar nossa árvore natalina.
Ali está ela, no cantinho da sala, piscando, piscando...alegre, e linda!
Ao seu lado, o presépio que bolamos, ela e eu: é o mesmo há mais de vinte anos.
É um presépio singelo; parecido com o que São Francisco de Assis armou, em 1223, na cidadezinha italiana de Greccio.
E quando, daqui a algumas horas, o Menino nascer, estarei recebendo o melhor dos presentes...
Desconfio que terei um Natal sem presentes. Papai Noel ainda não pintou no meu pedaço. Será que ele me esqueceu?
Logo eu que, apesar dos "meus cabelos cor de prata", continuo - falem o que quiserem - confirmando sua existência neste Planeta tão belo e de tantas mentiras...
Mas enquanto meus presentes (ainda os aguardo) não chegam, deixo meu gabinete e o conforto de minha redinha cearense, e saio pela cidade visitando as lojas de brinquedos; um velho costume.
Corro os shoppings e as ruas onde o comércio, no Natal, ganha intensidade e esplendor.
Enquanto circulo, observo a ansiedade que se apodera dos papais, na hora de escolherem os presentes dos seus filhotes, a mando de Papai Noel.
Vendo-os assim tão ansiosos, volto ao meu tempo de criança. E me recordo que, na minha casa, lá nos canfundós do Ceará, o Natal era sem presentes.
Eu sabia que existia um tal Papai Noel.
E que, no Natal, ele aparecia, com seu bisaco recheado de brinquedos; e, na calada noite, os distribuía entre a meninada.
Só que, pela minha casa ele não passava.
Dona Amélia, minha professora no jardim da infância, ouvindo que o generoso Noel não visitava a maioria das casas dos seus alunos, aconselhou-os a escreverem ao bom velhinho.
Obedecendo à querida Mestra, enviei dezenas de cartas para a Finlândia e para a Lapônia.
Ou elas não chegavam às mãos do Papai Noel ou ele as recebia e não as lia.
O certo é que ele continuou sem passar pela minha modesta residência sertaneja.
Minha mãe, para suprir-lhe a ausência, organizava uma suculenta ceia natalina, com tudo o que o sertão oferecia de melhor: bolos Luis Felipe e Souza Leão, pandeló, suco de frutas tropicais, pastéis, doces de caju, de goiaba, de mamão, etc., etc.
Não faltava, claro, o peru (criado no nosso galinheiro) cujo gostinho ainda sinto, volvidos mais de meio século!
Meu pai, um modesto comerciante de secos e molhados, acompanhava minha mãe, mas sempre na sua...
Ora calado, ora triste, ou as duas coisas ao mesmo tempo, ele participava da ceia sentado na cabeceira da grande mesa de jantar.
Ficava meio agastado quando eu, o filho mais velho, lhe perguntava por onde andava Papai Noel.
Até que em um desses natais, creio que no final da década de 1940, o pai resolveu abri o jogo.
Reuniu os oito filhos e lhes disse por que Papai Noel não dava um pulinho na nossa casa.
Revelou que Noel lhe "avisara" não ter presentes pra tanta gente. Oito meninos?
Desde aquele encontro cruel, deixei de escrever para Papai Noel às vésperas do Natal, como me aconselhara minha professorinha Amélia.
Os anos foram passando. Um dia, soube que Papai Noel (só aqui pra nós) era ninguém mais, ninguém menos, do que os nossos velhos pais.
Foi aí que entendi por que os meus natais de criança eram sem presentes. E o porquê do santo silêncio do meu pai, com a compreensão permanente de minha santa mãe.
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As horas correm, e aumenta a minha desconfiança de que meu Natal, este ano, será mesmo sem presentes.
Sem dar bolas para "as coisas terrenas", Ivone terminou de armar nossa árvore natalina.
Ali está ela, no cantinho da sala, piscando, piscando...alegre, e linda!
Ao seu lado, o presépio que bolamos, ela e eu: é o mesmo há mais de vinte anos.
É um presépio singelo; parecido com o que São Francisco de Assis armou, em 1223, na cidadezinha italiana de Greccio.
E quando, daqui a algumas horas, o Menino nascer, estarei recebendo o melhor dos presentes...