Encontro [PARTE III]
- Quero o divórcio! – ela berrou.
- O quê?! – ele se assustou.
- Exatamente o que eu disse: quero o divórcio
Ele engoliu seco.
- Você está exagerando.
- Não, não estou! Eu já disse: quero o divórcio.
Os dois só brigaram uma vez desde o casamento há 3 anos atrás. Ele realmente não entendia o motivo, mas não sabia como argumentar. A briga tinha sido incômoda por demais. Grana! O pior assunto de todos para acabar com o romance perfeito que eles vinham vivendo desde então.
- E s crianças? Como ficam?
- Nós NÃO temos filhos!
- Porque VOCÊ não quis! Mas poderíamos ter...
- PodeRÍamos: pretérito imperfeito... “possibilidade de ocorrência caso outro fato não interfira”. Nós podeRÍamos, sim, ter tido filhos ANTES do DIVÓRCIO!
- Mas nós teremos, amor.
- Não vamos!
- Vamos!
- Não mais. Já disse e não vou repetir.
Ela estava irritadíssima. Enquanto ele a todo custo queria livrar-se dessa palavra e da situação, ela implicava com as duas.
- Por que não damos um tempo?
- Tempo? Tá louco? Isso não existe!
- Claro que existe! Tanta gente por ai que dá um tempo no relacionamento, por que nós não podemos dar um tempo também?
- Tá! Digamos que eu aceite... você moraria onde?
- Aqui, claro!
- Não, não, meu caro. Este apartamento é MEU.
- É NOSSO, amor. Comunhão Parcial de Bens, lembra?
- Justo! P-A-R-C-I-A-L. Esse apartamento está em MEU nome.
- Mas foi um presente do NOSSO casamento.
- Mas sempre esteve EM meu nome, porque antes de ter sido NOSSO presente de casamento, foi MEU presente de 18 anos!
- Mas a mobília NÓS compramos JUNTOS!
- Quer serrar cada peça ao meio, é isso?
- Não, claro que não!
- Então o quê?!
- Não quer te deixar aqui sozinha, amor...
- Pára de me chamar de amor!
Um apartamento tão bem localizado, tão bem dividido, tão bem mobiliado... motivo de briga para o casal mais perfeito que a vizinhança já viu.
- Quer que te chame de que, então?
- Pelo meu nome, ora!
- Então tá: não quero que você fique sozinha, Lu-c-r-é-cia.
- Bem melhor assim, Oswaldo.
- Então... vai sair ou não?
- Claro que não! Quem tem que sair é VOCÊ!
- Tá! Digamos que eu aceite... eu iria pra onde?
- Pra casa de sua mãe! Pra onde mais?
- Não! Definitivamente pra casa dela não!
- Pra onde, então?
- Fico aqui!
- Aqui não!
- Lu, pára com isso! Nós não temos que nos divorciar por causa de uma briguinha a toa.
- Então o quê? Você vai dormir na sala?
- Não... No quarto de hóspedes, que tal?
- Lá, não! Ficou louco de vez? E além do mais, lá não é um quarto de hóspedes.
- É, sim... pelos menos desde que terminamos de mobília-lo.
- Não é o quarto de hóspedes – mais calma – É o quarto da Liz.
- Liz?
- Ou do Paulo...
- Paulo? Quem são? Amigos seus? Você deveria ter me dito antes que abrigar gente aqui.
- Não é nada disso... São nomes para nossos filhos...
- Filhos? Tá louca, Lu? Você acabou de dizer que não quer ter filhos.
- Falei?...
- Falou.
- Mas.... ....acho.... que agora já é um pouco tarde.
E lá estavam de volta os sorrisos e os beijos.