TUTTO PER L´ AMORE
TUTTO PER L´AMORE
O crime do Brooklin Paulista, na madrugada de 31 de outubro de 2002, abalou a alta sociedade paulistana. Não seria para menos. O casal Marisia e Manfred von Richthofen foi barbaramente assassinado. Tudo já foi dito pelas televisões e pelos jornais. A repercussão não alcançou tanto a periferia de São Paulo nem de outras grandes metrópoles. O índice de audiência, nem os holofotes que iluminaram esse crime, já considerado um dos mais hediondos, não sensibilizaram outra classe de pessoas - os marginalizados sociais. Cenas mais indignas e repugnantes fazem o cotidiano das favelas do Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre e da própria Paulicéia.
Dias antes do massacre da Rua Zacharias de Góis, Zona Sul paulistana, assisti à confissão de dois adolescentes, num programa de uma apresentadora, num canal bandeirante de televisão. Os dois jovens, também per l´amore, mataram à pedrada na cabeça uma simples mulher, do povo, como se diz, a genitora da criatura apaixonada. Enquanto o corpo, ainda quente, tremia nos derradeiros estertores, os amantes faziam sexo num outro cômodo da modesta residência. Não me recordo o nome da pequena cidade do interior de São Paulo, em que se deu o fato. Esse também monstruoso homicídio, premeditado, praticado com requintes de perversidade, juntou-se a tantos outros que se amontoam nos registros dos boletins de ocorrências das delegacias distritais das cidades brasileiras. A divulgação encolheu-se à simplicidade dos seus personagens.
O crime de Suzane e seus cúmplices mereceu mais destaque. E, por que não dizer, respeito. La belle du juor (ou melhor, la belle de tous les jours), mereceu grande distinção da imprensa, porque, além de nascida em berço esplêndido, é bonita hoje e em todos os dias de sua vida. Na verdade, trata-se de uma moça de feições angelicais, quase uma ariana. Para isso não lhe faltou sangue nas veias, descendente que é de alemães, como diz o seu registro de nascimento. E mais, os von Richthofen, considerados pela vizinhança uma família feliz (?), formavam no bloco dos empresários bem sucedidos e conceituados de São Paulo. A tragédia abalou o Brasil inteiro e atravessou até fronteiras.
Suzane Louise von Richthofen - esse é o seu nome de registro. Uma "arianazinha", talvez um exemplar perfeito da doutrina nazista de Adolf Hither, que seus genitores não aceitavam nem permitiam a mistura do seu sangue (puro?) com o sangue mestiço do brasileiro Daniel. O “anjo” que havia em Suzane transformou-se em “demônio” apagando para sempre o orgulho dos seus pais, o que me parece mais evidente, diante da maneira odiosa externada pelos assassinos para liqüidar os seus desafetos.
E o crime do casalzinho, dos adolescentes do interior de São Paulo, que anotei acima, ficou mesmo por ali, pela periferia, num "BO" de uma Delegacia. Se muito, alguns comentários circularam em alguns becos e esquinas. E só.
Tutto per l´amore.