A vida como ela é
Esta história me chocou. . Depois, respirei fundo, e continuei chocada, mas por motivos diferentes. A de que uma senhora estaria alegre ou aliviada ou as duas coisas com a morte do marido. Num primeiro momento, fiquei espantada e disse: ai! que horror! que desalmada!
Após o susto, comecei a imaginar a vida que este casal construiu ou (des) construiu para que a viúva estivesse neste estado de humor depois de mais de 30 anos de vida em comum com o falecido.
Quem sabe das noites mal-dormidas, dos choros e das tristezas por causa de brigas, desentendimentos ou mal-entendidos? Quem sabe dos não-ditos, dos silêncios profundos e das mágoas acumuladas durante estes anos? Quem sabe das palavras ditas nas horas erradas e das não ditas na hora certa? Das pequenas decepções e das grandes? Quem sabe do olhar perdido e evasivo? Dos sonhos não realizados ou das expectativas frustradas? Quem sabe da miudagem, das coisas pequenas de que são feitos o dia-a-dia?
Ao que tudo indica parece-nos que na balança da vida os momentos bons não foram suficientes para suportar os não-tão-bons. Por fim, no coração de quem aperta o calo?
24.09.08