Encontro [PARTE II]
- Já está tarde, não acha? – perguntou ao homem que escolhera para seu padrinho de casamento.
- Tarde? Não faz meia hora que os convidados começaram a chegar.
A igreja estava linda. Decorada de vermelho-bordô, branco e dourado; as flores estavam dispostas em lindos vasos de poucos menos de 1,20m, distribuídos em intervalos de 1 banco; a corrente [branca] fora confeccionada com elos de cetim, assim como aquele ponto primário de crochê [a trança]. O altar parecia ter saído de uma página de revista.
Ele estava nervosíssimo. A toda hora conversava com os pais, os padrinhos, o padre... e, a medida que os convidados iam chegando, ele se mostrava mais ansioso para que a cerimônia começasse.
Ouviram-se os sinos. Cinco badalas pausadas; na terceira, fecharam as portas e os convidados se levantaram. O coral se preparou e também a pequena banda. O piano deu o sinal para que as postas se abrissem; os dois porteiros [trajando fraques] abriram-nas harmoniosamente.
Todos olharam. Ele não se conteve ao ver sua pequena.
Há quatro anos namoravam, e aquela seria a noite de firmar a união que começaram na porta do mercado da família do rapaz.
Ela estava encantadora. Emagrecera mais quatro quilos durante aquela última semana de preparativos; durante os longos meses de planejamento, teve que ajustar o vestido duas ou 3 vezes. Escolhera os tecidos à dedo. O corpete, bordado à mão por da mãe e por sua madrinha, trazia flores de vários tons de vermelho. Somado à cauda e às anáguas, o saia balão do vestido pesava quase sete quilos. Um “branquíssimo branco”, cintilante. Preferiu não usar véu. Os longos cabelos [clareados para a cerimônia] foram cuidadosamente penteados misturando cachos, tranças e enfeites brilhantes; os cachos que lhe caiam sobre as saboneteiras davam um charme especial os ombros arredondados que, apesar de um pouco mais magros, não deixaram de possuir o encanto de antes.
Caminhava em direção ao altar como uma princesa; flutuava pelo corredor, passando por entre os vasos de flores. Não conseguia esconder o largo sorriso de felicidade. Mas conteve as lágrimas. O buquê lhe serviu como apoio para que poucos notassem que suas mãos tremiam.
Ao vê-la tão linda, não se conteve. Mudas, felizes e emocionadas lágrimas. Ela ainda segurava o choro. Pura vaidade!
Trocaram as alianças após pouco mais de vinte minutos de cerimônia. Gravado na dele tinha “... é o mesmo amor ...”, e na dela “... mesmo que mude ...”.
Riram, choraram, foram abençoados pelos convidados
Saíram da igreja pisando num chão de pétalas e banhados por um chuva de arroz com os convidados entoando uma “sinfonia” de apitos e cornetas.
No fusca estacionado na frente na igreja, escreveram: “Casaram-se os amantes!”