Natal Moderno
Tenho plena certeza de que muita gente já falou do natal. Não apenas em nosso mundo Cristão-Ocidental, como diria o bom amigo Osama Bin Laden. Tenho plena certeza de que muitos ao redor do planeta já o fizeram, e que este é um tema que realmente pode dar muito pano para manga. Mas enfim, como vendedor de fim-de-ano – designo este o qual eu mesmo me alcunhei – devo sim falar do natal.
Lembro-me de há poucos anos atrás, já que afinal de contas não sou eu tão velho, quando o natal era festa comemorada com um simbolismo e porque não direi sincretismo muito grande. Em verdade, apaguemos a palavra sincretismo, e coloquemos fé. Sim, há uns poucos anos, o natal era a data em que se relembrava o nascimento do mestre, nosso senhor Jesus; hoje nos vemos às voltas com papais noéis, guirlandas natalescas – as quais ninguém sabe ao certo donde surgiram, e até o seu significado; afinal, para que serve uma guirlanda? – bolas de natal, árvores de natal, natal, natal...
Sinto-me por vezes dentro do bat-móvel, usando o bat-bumerangue, e dando umas bitocas na bat-moça! Meu Deus! De onde tiraram tanto senso de consumismo? Não que eu esteja reclamando, posto afinal de contas, mantenho-me às custas no fim de ano de pessoas como você, as quais se preocupam em encher a casa com piscas-piscas de natal, e outros badulaques para depois se amostrarem aos amigos exclamando o quão bonito está a minha casa, Que inveja, queria que a minha fosse como a sua, e outras conversas indistintas e sem sentido que agora não relembro.
Sem contar a própria venda em si. O ato de se vender. Brasileiro em festa já é impossível, quanto mais quando a festa está próxima. Chega a ser até amedrotante, assustador, arrepiante; ver tantas e tantas pernas para lá e para cá, pessoas gritando, eu tentando vender papais-noel de plástico – ele de novo! – para você, ou para ela, ou para quem sabe uma senhora desavisada passando ali por perto. Os brados nas lojas são como de papagaios, perguntando uns aos outros dos preços, das roupas, dos presentes, um calor atordoante, escaldante quase feito uma sauna! Em suma uma amostra do que há de ser o inferno.
Chego em casa do dia 5 até o dia 30 de dezembro apenas no fim de noite, totalmente exaurido e até mesmo meio surdo, e por incrível que possa parecer, com um sorriso de canto em face. Não que eu mesmo não seja um dos muitos “homens-morcego” do consumo, porque eu compro todo ano tudo que se arremeta à palavra natal. Mas por muitas vezes olho meu presépio com certo tom jubiloso, apesar dele ser meio velhinho, quando o comparo com o bom velhinho do natal moderno – não me refiro ao santo, já que ele era caridoso. Quem sabe no ano que vem, em vez de me ver às voltas com fregueses desajustados, tresloucados, desvairados; não me sento numa cadeira vermelha, com barbas postiças, botas pretas, todo vestido de vermelho, para enfim ter um mês de dezembro mais calmo, mais ameno? E com algumas sobras até! Paradoxal e sem nexo? Ou a necessidade se junta à boa oportunidade?
Também acho.