Amor incontido
Não sabemos como, o amor, este velho e companheiro do mais rude homem, costuma pregar peças.
A bela moça, cabelos dourados, olhos faiscantes, postura de princesa e graciosidade no corpo, fica apaixonada. Seu parceiro é mais velho. Talvez pudesse ser seu pai. Electra? Toda vez que um fato destes acontece precisa rótulos, principalmente freudianos? Acho que não.
O certo é que num sábado de maio, num corredor de hospital famoso, eles se encontraram por acaso. Ambos tinham o mesmo objetivo: visitar parentes internados. Para aumentar a coincidência, não eram pacientes em estado que inspirasse maiores cuidados. Crise alérgica, muito comum nesta época.
Quando se viram, um olhar procurou o outro. Um olhar encontrou o outro. Um olhar gostou muito do outro.
A bela, solteira. O homem, casado. Estes fatos são comuns. O homem costuma partir para a conquista, mas na verdade é ele quem está sendo conquistado. O jogo é este. A mulher escolhe o seu homem, mas nós não admitimos tal fato. Verdade que se não temos os predicados que ela exige na sua mente, somos descartados, como somos também se não soubermos aproveitar a ocasião.
Grandes mulheres costumam ser demasiadamente exigentes. Quando fazem suas escolhas, querem ser correspondidas. Ela era assim. No primeiro encontro, depois de um beijo que insinuava tanto amor, como sexo, veio a intimação: “você é só meu, não divido com ninguém”.
Nem perguntou se tinha filhos, ou amava a mulher. Apoderou-se de mim num instante, naquele pensamento “é meu e está acabado.”
A beleza dela é tanta que ficamos sem dizer palavra. Que, aliás, de nada valem neste momento.
Determinada e atrevida, ela joga pesado.
- Vamos para Caxambu amanhã. Onde pego você?
- Querida, isto não pode ser assim!
- Pode. Ou você vai ou perde!
Ele não foi. Amarga, até hoje, a perda de tão linda jovem, cabelos dourados, olhos penetrantes, uma mulher linda por fora e por dentro, como ele pode saber durante o curto período em que se falaram.
Agora fica a saudade. Saudade de quem não realizou um amor incontido...