Historieta da 1ª República Portuguesa ( à minha maneira) - Parte VII

Afonso Costa ganha as eleições obtendo a maioria absoluta na Câmara. No Senado permanece em minoria continuando a depender de Brito Camacho.
Ao contrário do que fizera no Governo anterior Camacho retira o apoio a Afonso Costa. Eram muito famosas as mudanças de opinião e reviravoltas estratégicas deste senhor, conhecidas pelos “ Caprichos do Camacho”.
Falava-se de uma fusão entre unionistas e evolucionistas. Mas nem assim os dois chefes dos Partidos se entenderam. A propósito da nomeação do governador da Guiné pelo Ministro das Colónias estala o verniz entre o Senado e o Governo. Os ânimos aquecem e os insultos também.
O Presidente Manuel de Arriaga é chamado a intervir. Tenta fazer uma conferência com os três chefes políticos mas António José de Almeida recusa-se a sentar-se à mesma mesa que Afonso Costa, ainda que esta fosse a do Chefe de Estado.
Manuel de Arriaga propõe, ainda assim, um governo extra partidário que procedesse à discussão do orçamento de Estado, à Revisão da lei da Separação, a uma ampla amnistia para os crimes políticos e a novo acto eleitoral.
O Governo, com maioria absoluta, tinha já agendado a discussão do Orçamento e da lei da Separação no Parlamento. Considerou a proposta do Presidente anti-constitucional e apresenta a sua demissão.
Manuel de Arriaga fica com a batata quente na mão. Quem quer governar este país que é bonito e perfeitinho?
Nem Brito Camacho. Nem António José. Fácil é ser oposição.
Por acaso, Bernardino Machado voltava a Lisboa, vindo do Brasil onde estivera como embaixador. E é este membro do Partido Democrático, aliado de Afonso Costa, que aceita formar Governo.
Bernardino procurou com habilidade conciliar a carta-programa do presidente com a vontade e atitude dos Democráticos.
Mas o parlamento apresentava o espectáculo do costume.
Escreve João Chagas: “ Na Câmara, O António Maria da Silva chamou canalha a um deputado. Este, por sua vez, chamou-lhe tolerado. Trocaram-se explicações com a presidência, concluindo esta por aceitar as de António Maria da Silva, o qual declarou que ao classificar de canalha o deputado Gil não tivera a intenção de ofender a Câmara. Evidentemente! As galerias intervieram na contenda e deram morras ao Afonso Costa. Nos Passos Perdidos houve bofetões. Toda a gente andava armada.
No Senado, um senador interrompido por outro disse: Eu não tenho pelo senhor senão desprezo! E repetiu: Desprezo, ouviu? Como lhe era recomendado, o outro ouviu e calou. Estes horrores passaram-se na sessão de 17 de Junho.” (1914)
Em Outubro dá-se uma nova tentativa de golpe militar dos Monárquicos em Mafra que rapidamente foi derrotada.
Bernardino Machado é acusado pelos meios da esquerda de ter agido com demasiada brandura na repressão da conjura e aproveita para se demitir.
Manuel de Arriaga tenta novamente criar um governo extra-partidário, insistindo mais uma vez na utopia.
Tenta todas as possibilidades:
1- Governo de concentração dos três partidos;
2- Governo de democráticos e evolucionistas;
3- Governo de democráticos e unionistas.

Quando este último estava pronto para se formar deu novo ataque de “ Caprichos” ao Camacho e este nega-se a tomar posse.
Acabou por se formar um governo democrático chefiado por um tal de Vítor Hugo que a oposição não tardou em apelidar de “ Os Miseráveis de Vítor Hugo”.
O nome veio a provar-se bem posto. Com eleições marcadas para dia 7 de Março dá-se um estranho golpe no dia 20 de Janeiro. O Golpe das Espadas serviu para por fim ao governo e iniciar uma ditadura que (des)governou o país durante quatro mesinhos apenas.
Houve uns quantos oficiais que se revoltaram num quartel. Alguns políticos foram lá acalmar os ânimos e eles depuseram as espadas sem resistência. Foram presos. Em solidariedade para com os “colegas” outros oficiais em Lisboa e na Província depuseram as suas espadas também. Vai daí o Presidente Manuel de Arriaga demite os “ Miseráveis” e convida para chefiar o governo o seu amigo Pimenta de Castro, um velho militar, que chama a si a pasta da Guerra.
O parlamento é fechado e Portugal é governado pela “ Afrontosa Ditadura”.
Não se pode falar de República mas apenas de Nação e Nacionalismo.
Estaria a República morta para sempre?




AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 20/12/2008
Reeditado em 27/03/2009
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