Papai Noel
 
 
         A liberdade não tem dimensões, não tem limites de tal maneira, que ela pode abrir espaços até desconhecidos de nós mesmos, permite nos surpreender com nossas próprias ações quando espontâneas, já que nem tudo de nós mesmos sabemos.
         Hoje eu me surpreendi, por ser livre.
         Tenho guardado um leãozinho estofado, macio, amarelo, com blusinha branca solta, uma bela juba laranja de um pelo sintético também macio, embelezando sua carinha expressiva de leão alegre, boca avermelhada como se fosse começar a dizer alguma coisa, olhos e feições lindas. Duas perninhas como de boneco-menino e botinhas pretas de pano. Um tamanho assim de um palmo mais ou menos. E um rabinho longo com um pompom tal como a juba, na extremidade. Tão bem confeccionado, simpático, de uma maciez que, nos braços de uma criança se chamará ternura. Guardei com pena, pois ia ser jogado fora por minha filha que o trouxe da Alemanha, como uma recordação de um tempo de 2006 que era algo bom dela. Lavei cuidadosamente e o preservei para dar a alguém em qualquer dia oportuno.
         Hoje, ao receber uma entregadora de refeições, simpática nordestina, falamos do filhinho dela. Mãe solteira, de um garoto de sete anos, que outro dia me dissera, toda alegre, que o filho tinha passado de ano, do primeiro para o segundo ano e os dois estavam que era uma alegria só. E perguntei se ele gostaria do leãozinho guardado. Sorriu satisfeita que sim, que ele iria adorar. Busquei o bichinho e mostrei dando-lhe para pegar e sentir a maciez. Pegou e ficou encantada. Apanhei uma folha de papel de seda branco e fiz um embrulho cuidadoso do brinquedo, entregando-o a ela dizendo _ dê a ele e diga que foi uma tia ou uma avó que mandou, e corrigi, não, diga que foi Papai Noel que mandou... Despedimo-nos e ela agradeceu dizendo que ainda viria contar como ele recebeu o presente, já se afastando no corredor, eu ainda gritei – obrigada!
         Obrigada sim, pois senti tal alegria em proporcionar aquela alegriazinha ao menino, que me surpreendi como felicidade!
         Felicidade a mim mesma, agradecida por dar alegria a uma criança!
 
MLuiza Martins