VIAGEM PARA CURITIBA

Geralmente me torno uma pilha de nervos e me deparo à flor da pele quando estou na iminência de viajar. Preocupo-me além do devido com todas as possibilidades e medos, me pego ansioso e disparo a fazer anotações sobre os pagamentos agendados e as providências a serem tomadas antes, durante e depois da viagem. Talvez por isso de quando em vez acontece algum fato interessante, estranho ou hilariante que vale a pena ser relatado em minhas crônicas corriqueiras.

Assim, a viagem para Curitiba também tornou-se motivo para esses instantes de estresse descabidos porém incontroláveis, embora estivesse sendo planejada há tempos. De registrar, todavia, que desta feita, graças a Deus, tudo correu na mais tranqüila normalidade, nenhum acontecimento a merecer destaque e nada que desse razão para descambar para a ansiedade. Não houve atraso no vôo nem precisei pernoitar num hotel por conta da empresa aérea, não enfrentei fila quilométrica, etc e etc. Um dia antes liguei para a cooperativa de táxi e acertei o horário para virem apanhar-me e à minha esposa para irmos para o aeroporto, as passagens haviam sido compradas quase um mês antes, já tínhamos arranjado todos os detalhes de contas rotineiras como de energia elétrica, água e telefone, e acertado os principais pontos nos is de tudo quanto estava relacionado a seguir dentro dos conformes.

O táxi nos apanhou exatamente na hora combinada, aliás, para ser mais preciso, ele chegou ao nosso condomínio instantes antes do previsto e ficou a esperar-nos. Foi através do interfone da portaria que soubemos de sua presença antecipada e nos apressamos com a bagagem cinco andares abaixo. Ele levou-nos para o aeroporto percorrendo vários quilômetros por ruas desertas e br vazia e lá nos enfileiramos para o chek in, que levou apenas alguns minutos. Enquanto aguardávamos o momento do embarque ficamos a perambular pelo saguão do aeroporto e trocando impressões sobre isso e aquilo, rindo como é de lei para quem está prestes a viajar a passeio. Isso descontrai e acelera o tempo, pois este costuma demorar quando há mágoa ou tristeza. Por antecipação, obtivemos vagas nas primeiras filas de assentos do avião, de forma a entrar e sair com mais rapidez da aeronave, tudo com vistas às indefectíveis conexões, e elas sempre estão presentes em nossas viagens.

Como de conhecida praxe, evidente, permanecemos na sala de embarque durante tempo suficiente para uma sessão de shiatsu com vistas ao relaxamento necessário ao demorado trajeto. Senti-me novo e flutuante após a massagem. Daí veio, afinal, a chamada para adentrar o túnel e, ufa, pisar o tão almejado estrado do enorme transporte aéreo que nos levaria para São Paulo e, após a conexão, para Curitiba.

Acomodados em nossas respectivas poltronas, Ana na janela e eu, como sempre, na coluna do meio, pegamos as revistas de bordo e as folheamos esperando a partida. O motor do avião zumbia atordoante embora ele ainda estivesse estacionado na pista. Melhor mesmo era esquecer porque quando as turbinas fossem acionadas o troar por horas, durante todo o vôo, seria de fortes proporções, quase insuportável. A porta foi hermeticamente fechada e ficamos à mercê do oxigênio pressurizado e distribuído uniforme a todos os passageiros. Respirávamos o mesmo ar viciado o tempo inteiro, malgrado o exaustor. Lá pelas tantas, a voz entediante do comandante anunciou a autorização da torre de contrôle para alçarmos vôo. Apertados os cintos, ninguém fumando - graças a Deus!, detesto cigarro, odeio mesmo -, a nave taxiou na direção da pista de decolagem, tomou impulso e disparou como um bólido. Tudo passava ao nosso lado com incrível rapidez, as luzes, o chão, o prédio do aeroporto e os aviões parados. A decolagem, por fim, se deu suavemente e o nariz do avião, parecendo uma seta atirada com violência, perfurou o espaço e atravessou as nuvens carregando toneladas de peso como se fosse uma leve pena. Logo nos vimos a dois mil metros de altura e voando a mais de novecentos quilômetros por hora, algo realmente assustador. Tamanha era a velocidade que, para nós os passageiros, dava a impressão de que estávamos inertes no ar, sem sair do mesmo lugar em nenhum instante.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 19/12/2008
Código do texto: T1343233
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