Miloca e o governador


Debaixo de chuva, Miloca atravessa lentamente o nosso bulevar dos tamarindos, cabeça arriada, os olhos estúpidos. Volta para casa, no alto da rua Costa Filho, depois de perder trezentos reais (condomínio e compras do mês) no caça-níquel dos diabinhos quíntuplos, que os expertos chamam de Halloween. De onde estou, à porta do Teatro Armando Gonzaga, percebo que ela me viu mas não quer saber de assunto comigo. Vira o rosto e segue em frente, passo miúdo, claudicante e derrotada. De fato, se guarda algum valor a última conversa que tivemos, anda é com uma raiva tremenda do nosso governo estadual cabralino, que não combate à vera a exploração dos jogos eletrônicos de azar. Uma apreensão de máquinas aqui, outra ali, e no entanto o cidadão carioca mais fodido sempre encontra nesta ou naquela esquina do subúrbio um boteco onde lançar no ralo a grana do fim do mês. Como reconhece plenamente que é viciada em caça-níquel e avessa a psicoterapias, a única solução para ela seria que o governador mandasse acabar de uma vez com a jogatina generalizada. Não é proibida? Por que o nosso premiado peemedebista não faz isso? Mas à vera mesmo, repito, sem limitar-se a intervenções meramente pontuais, para uso estatístico e visibilidade midiática. Tem razão Miloca. Creio, entretanto, que o importante é que ela trate de si, como o campeão Murici. Do contrário, vai morrer votando e esperando...