ESTILHAÇO VI - O mosaico de Karol Bauer

Aconteceu no ano anterior ao meu casamento. A primeira vez em que fui ao cinema sem meus pais. Fui acompanhada de Anna, minha prima. Eu havia completado 35 anos de idade no em janeiro, Anna estava com 15 ou 16, mas aparentava 22. Vestia-se bem e era da minha quase altura. Foi durante último ano em que morei com mamãe. Como mamãe conseguiu guardar luto até morrer? Anna lembrava mamãe, que era cinematográfica, uma mulher “bergmaniana”. Cito Bergman porque era dele o filme ao qual fomos - eu e Anna - assistir. Um filme quase sem palavras, gestos, nuances ou olhares reveladores, dispensando das personagens toda e qualquer palavra, todo e qualquer discurso, cuja existência seria de uma tola e brutal incoerência. Evidentemente não disse a mamãe que eu e minha prima iríamos ver “Persona”. Disse a ela um qualquer nome de que não me recordo. Persona, a tradução junguiana para minha essência. Pude finalmente pegar a mão de Anna, apertá-la, protegê-la, Liv e Bibi... Ainda bem que casei no ano seguinte.

KAROL BAUER
Enviado por KAROL BAUER em 17/12/2008
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