5 copos de bebida quente.
Teodora chegou em sua casa já tarde. E embora estivesse tudo ao seu lugar, tudo parecia exageradamente novo. Havia saído de um próprio interesse consigo mesma. Fechou todas as portas, acendeu um cigarro que nem chegou a fumar, afinal havia prometido ao seu prometido não mais fumar naquele dia. Nesse momento não podia se descrever em fatos, era como se despretensiosamente respirasse sem pensar em absolutamente nada entendível. Deixava os segundo guiarem a consciência cansada de abstrações, de ousadias.
Em algum momento olhou à hora. Passava da meia noite e decidiu que podia fumar, seria o primeiro cigarro do dia.Os tragos seriam bem aproveitados na tentativa de afirmar seu próprio charme, gostava de fumar mais por se sentir charmosa que por necessidade da nicotina. Lembrava o seu dia romântico. Teodora traíra (mas não precisava pensar por esse lado...nem queria), e como uma espécie de narrativa deitou-se no chão frio de seu quarto e tentou despejar no papel as sensações que lhe abarcavam o juízo, porém, sua letra saía ininteligível tanto quanto seus momentos recentes...Aquele telefonema... “Quando encontro os amigos?” poderia escrever durante toda a sua vida sem pausa alguma. Mas o que tinha a dizer? Já não se lembrava, o álcool determinava o momento do riso, o papo fluía... O sorriso...Os beijos cedidos por um instante eterno de beleza e prazer. O tapete de crochê incomodava-lhe as costas, os minutos passavam agradáveis e recordativos, lembrava daquele mesmo amor um dia não correspondido. Era feliz, sentia-se madura e feliz sim! O telefone agora tocava alto, tudo era percepção.Quem ligava? Quem cantava? Quem era ela? Lembrou-se de Caio Fernando Abreu; Machado de Assis e seus amigos comuns. Porque a relação destes? Já não importava, nada importava.
Os questionamentos começavam a incomodar. Onde estavam os personagens? Estava escuro e ainda que não se importasse com a coerência dos fatos, sabia que tinha vivido tudo aquilo. Aquilo o quê? O som não dava trégua, o celular tocava e nem sabia se era viva de verdade. A cabeça doía. O sono lhe pesava os cinco copos de bebida quente. Não podia evitar o bocejo que prendia seu corpo contra o chão, a música...o cigarro entre os dedos já não tinha o que queimar...Olhos pesados, momentos... Vida...Música...Música... Chamada... Celular...música.
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