Velho Ranheta
Há certos ditados que eu não aceito. Um deles é aquele em que usam da seguinte filosofia: "Vista-se da maneira que você se sente bem, e não do geito que as pessoas gostam".
Pelo amor de Deus, não me irritem com essa merda desse ditado. Se você pensa assim tranque-se, então, dentro de um quarto todo espelhado e mostre-se somente para si.
Temos que nos vestir, sim, do geito que as pessoas gostam, pois é para elas que vamos mostrar o nosso ego material. Que graça tem eu me produzir todo da maneira que eu gosto, e ao sair na rua peceber que as pessoas estão rindo do ridículo das minhas vestes.
Estou tocando nesse assunto por causa do Armandinho Puruca, velho conhecido meu, que ainda insiste em confeccionar com seu alfaiate, em pleno 2008, suas calças de tergal boca de sino, e sai pelas ruas da Vila Alpina, zona leste de São Paulo, varrendo as calçadas com aquela boca de sino enorme. Ridículo! Por onde ele passa todo mundo dá risada. E quando alguém tenta lhe abrir os olhos ele responde nervoso: ---Não tô nem ai com o que as pessoas pensam. Desde os anos 70 que eu uso boca de sino, eu adoro boca de sino, eu me sinto bem com minhas calças bocas de sino, e vou continuar usando boca de sino até morrer.
Aquilo me dá uma raiva tão grande que você nem imagina. Eu não saio com ele não. Não sou palhaço. E agora me dá licença que vou pegar meu chapéu coco, minha camisa volta ao mundo de poliester, minha calça de suspensoir, minha conguinha sete vidas, a minha gravatinha borboleta, e vou me produzir todo para dar umas voltinhas pelo bairro, bem longe do Armandinho Puruca, aquele velho ranheta que vive discutindo comigo, só porque eu não sou tão boco-moco quanto ele.