Acorda Presidente!
“A pessoa que lê sua sorte desapareceu e nosso chefe está furioso. Esperamos que você tenha um dia de sorte” Frase abominável do Orkut para mim.
O computador sem programa, sem aplicativos, sem internet seria um produto de mercado tão importante quanto uma cama sem estrado ou xícara sem fundo. O fato é que há muitos anos suportamos a televisão repleta de canais vazios com naturalidade. Suportamos que os donos da técnica criem as regras e leis cobrando um preço alto por isso. O direito do usuário em tecnologia é apenas uma questão de preço com sinalização da pena.
Primeiro aspecto. Estamos fartos de avisos sobre códigos e situações de funcionamento da linguagem de máquina. Máquina inacabada vomitando regras sobre a excepcional idealidade da boa utilização no processo geral. A vantagem sobre a capacidade crítica da tecnologia e o relacionamento com o indivíduo se acentua com o computador ligado a rede internet, que a princípio, teatral, representa um aparato a mais de máquina. Uma parte opcional. Tirando tal parte seria como jogar com a bola vazia toda a copa do mundo. O computador se fecha ao campo da utilidade.
Máquinas não aceitam a verdade, aceitam números. Só usuários procuram a verdade no manuseio, na experimentação, perdendo em cifra durante o estágio de compreensão no campo das irregularidades. Erro versus lucro. Todos os golpes serão dados como lances em cima dessa formulação. Experimente e pague ainda. Explorando a necessidade humana de conhecer, aprovar e sublimar os erros. Engorda os cofres dos criadores sobre os bolsos da criatura.
Segundo aspecto: toda legislação é montada sem consideração sobre este primado básico: a inteligência quer se libertar da repetição. Ela falha no universo de regras, que é superior a simples vida de mortal experimentando um meio artificial. (Toda legislação é perigosa. – Semana da Arte Moderna, 1922) Essa modalidade de lucro sobre o fracasso define outra questão: como essa aparelhagem sofisticada determina baixos níveis de lucratividade ao cidadão (refiro-me somente a pessoa física) sendo exata a sua especificidade? Em tese cada computador deveria vir com salário, emprego, renda e décimo terceiro. Nada mais correto do que a contabilidade, nada mais perfeito do que a matemática, nada mais correto do que as regras e leis. Acorda Presidente! O devaneio da utilidade é o grande império da minoria privilegiada. A esperança que o povo tinha no computador nascia da idéia da máquina poder calcular bilhões para milhões.
O capitalismo aprendeu a vencer sobre o fracasso e o comunismo sobre a submissão. Há totalitarismo em ambos os casos e talvez por isso a versão brasileira do computador se encaminhe para o talk-show de sábado à tarde. O escapismo bem elaborado onde o usuário é animador virtual, mas não sabe explorar nenhum direito. Ele é quem deveria ganhar para estar no ar como o radialista ou aquela famosa âncora da televisão. Mesmo que fique conversando horas a fio com a amiga que nunca viu. É o sujeito animador. Só a vaidade da vitrine alimenta o subdesenvolvimento das relações imaturas da tecnologia com o senso ingênuo e participativo do terceiro mundo. De longe você é convidado à liberdade, mas não sabe quem está por traz dela.
A visão dos especialistas de fora, claro, manifesta a grandeza da experimentação dessa liberdade de expressão nesse processo como vantagem especial. Escolha o seu direito ao lixo mental e as abobrinhas, por mais cientifica e acadêmica que pareça essa coisa computador, utensílio doméstico mal acabado há algo de irreversível. Destrói as salas de aula e o conhecimento secular pela fragmentação, assim como meia hora de novela arruína uma semana de trabalho letivo. Quantas repetições mecânicas de comandos sobre decisões importantes? Você quer este, aquele ou este com aquele? Decisões taxativas e repetidas para efeito unilateral no grosso da divisão. É a falsa escolha. Na verdade você, usuário, foi obrigado a tal ação porque senão a página ficaria no mesmo lugar, não andaria. Isto contará nos embustes finais como imensa vantagem para a mágica do lucro. A máquina em si não será levada em conta na hora de qualquer juízo. Ela será você.