JÁ QUE SE HÁ DE ESCREVER...
Ontem desejei Feliz Natal para os queridos companheiros/companheiras, hoje, só me resta dizer que vou dá uma paradinha na escrita, antes que eu sinta a “impressão de que já vou tarde” (EsTe é um verso do “Trocando em Miúdo” do Chico, de que gosto tanto, e que diz mais... Aquela esperança de tudo se ajeitar / Pode esquecer (...) / Mas devo dizer que não vou lhe dar / O enorme prazer de me ver chorar / Nem vou lhe cobrar pelo estrago / meu peito tão dilacerado (...) / eu bato o portão sem fazer alarde /uma saideira muita saudade / e a leve impressão de que já vou tarde (...)
Mas, já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas. Assim falou Clarisse .
Clarisse morta. Viva Ana Miranda!
Maldição do amor, maldição doméstica, maldição biológica. Estará a mulher sempre sujeita as tais maldições e ditas femininas? Quem indaga não sou eu, mas a romancista Ana Miranda num texto intitulado Ser Mulher, publicado tempos atrás, no qual tece comentários sobre personagens femininas de nossa História, refletindo sobre o desafio dessas no Brasil.
Pondo de lado tal desafio, atenho-me a alguns dados interessantes registrados por Ana Miranda e que dizem respeito às nossas personagens femininas no contexto da nossa História oficial.
Um deles, é que o primeiro nome de mulher que aparece na nossa História , excluindo-se as cabeças coroadas é o da escrava forra Chica da Silva, amante que era de um contador das minas de ouro. Isto já decorridos quase duzentos anos da chegada da esquadra de Cabral à costa brasileira.
Fala ainda a História na marquesa de Santos, cortesã, que conheceu o poder através do amor. Temos uma mártir, Joana Angélica, morta a golpes de baioneta, uma versão nacional da Joana d’Arc; contamos também com heroínas: Inês de Souza, que ajudou o marido a expulsar os invasores franceses e Anita Garibaldi, que por amor abraçou um ideal, para tanto abandonou o lar e seguiu o seu amante Giuseppe. Por fim, a brava patriota Maria Quitéria, que se passando por homem assentou praça na artilharia e lutou na guerra da Independência.
Na concepção de Ana Miranda, a princesa Isabel talvez seja a única mulher em nossa História que aparece à frente de algo marcante, embora contestada.
No campo da literatura , Dorotéa Engrácia foi talvez a primeira brasileira a escrever um romance, publicado em Portugal no meio do século XVIII. “Era algo tão insólito que atribuíram a autoria do livro a Alexandre de Gusmão – e Dorotéa terminou seus dias numa cadeia por ter desafiado o poder das leis e dos costumes femininos”.
Ainda está “pérola de pensamento do padre Antonio Vieira: “as mulheres deviam sair de casa em apenas três ocasiões: para o batismo, o casamento e o próprio enterro”.
O padre Antonio Vieira viveu lá pelos idos de 1608/1697, pois do contrário o “imperador da língua portuguesa”, assim considerado pelo poeta Fernando Pessoa, seria mais um páreo duro para nós mulheres hodiernas.