Hallow(êê)n

Quando olho em seu rosto, me vejo. Quando miro a face in_culta dos seus inimigos, também me vejo. Quando vislumbro a ideia do caleidoscópio nos vejo tristes e a sós. Isto tudo seria engraçado se não fosse trágico, se não fosse assustador, se não fosse o que é.

Um dia desses dentro de um hotel que tem vidros espelhados, fiquei observando os transeuntes que por lá circulavam alforriados. Praticamente todos aproveitavam para dar uma olhadela no visual: ajustavam aqui, apertavam ali. Depois seguiam como se nada houvesse acontecido. É uma hilaridade ficar na espreita sem que saibam da nossa estúpida curiosidade. Os homens geralmente passam as mãos nos cabelos, umas duas ou três vezes e sempre no mesmo sentido. Até os que são carecas aproveitam para acarinhar a calvície, às vezes esbranquiçada, na esperança de um milagre de um santo desconhecido. As mulheres Vigem Maria! Que doideira... ajeitam a maquiagem, cuidam das madeixas, das sobrancelhas e pasmem... até da bunda, patrimônio valiosíssimo para os dias de hoje. Realmente elas precisam de cuidados especiais! Isto é fato.

Não sei o que anda acontecendo comigo. Às vezes penso e chego a ter a certeza de que estou variado em minhas ideias: vejo o que não é para ser visto, sinto o que não é para ser sentido, choro o leite que não era para ser derramado, grito no seu silêncio e tudo fica mudo.

No meu calendário lunático hoje é um dia esdrúxulo: todos estão a me olhar, parecem terem saídos da mesma alcova, da mesma forma, do mesmo molde, do mesmo manequim. Apesar de que uns se dizem homens enquanto outros se dizem mulheres. Provavelmente fomos esculpidos com a mesma argila, com as mesmas mãos... somos espelhos.

Sem saber o que fazer, fui falar com minha amada sobre esses desconfortos. Ela não teve dúvida, me mandou usar uma máscara espelhada. Não pensei duas vezes, comprei logo duas. E que assim seja!

O pior é que outras máscaras serão fundidas na mesma forma, com a mesma lama, é o milagre da multiplicação.