Assim chegava ao fim JR
José ganhava o táxi. O táxi desaparecia no breu.
- Quanto de dinheiro existe por vaga? Maria Alves de Esmeralda contava os trocos.
- É possível comprar um lugar na aldeia com estas moedas. José Ricardo Beneveres ria. Uma vida inteirinha de mãos atadas. Pacífico remador. Perto do primeiro lugar, do segundo lugar, estava bem com alguns caraminguás. Estalava um beijo gordo no velho rosto de Maria Alves.
- A gorjeta é o melhor adeus ao garçom.
Só assim a noite no Píer se apagava. Após José Ricardo, garçom, ser levado de táxi para casa, pela mulher amada. Só assim chegava ao fim à noite no píer. E o amor também tinha limite.
Em casa Maria Alves de Esmeralda dormia. Sonhava com capelão de farda indagando: aceita, naturalmente, em carne e osso, José Ricardo Beneveres em justas núpcias, senhora Maria Alves de Esmeralda? Muitos sonhos acabam em momentos de breve indecisão. Será Maria Alves de Esmeralda, esmeraldina ou de Esmeralda? Havia o município de Esmeralda a dois trotes dali. Precisava não sonhar que era amor de naftalina quando acordou. No banheiro ainda onírico seguiu amando o beijo dele com gosto de dobradinha dos últimos vestígios sonhados.
De família rica preferia desembarcar o vivente de táxi na porta da sua casa regressando amarrotada até o casarão. Levou o mais longo tempo para superar a premonição de que casaria com um com homem de terno e rico. Pelo menos de terno. Nenhum dono de jazida havia apresentado aquela paixão de pimenta ardida, dos beijos regalados, dos vinhos, das doses vitais de contentamento como o simples mortal J. R. Quem diria aquele amor. Mas amava. Mentiu a si mesma durante quarenta desgraçados anos. Durante quatro décadas havia sonhado com dezoito mil castelos. Havia desejado trilhões de homens fictícios. Havia cobiçado ardentemente um ator de novela, ou cantor, pois não lembrava com clareza. Pobre era ela. Iludida. Uma vida de ilusões.
Conheceu José Ricardo durante a brincadeira sobre o modo de dizer o "prato de pato" em francês legítimo no restaurante, passando de imediato ao sentimento maior. Amou perdida no confeitado tempo da alegria. Girando colorida como balas de goma no balaio de um camelô. Imersa nas palavras de convencimento utilizadas para a felicidade momentânea. “José, homem de mãos atadas, pacífico remador.” Sua frase de grife. O José Ricardo Beneveres que acordava sem fazer barulho, fora das confusões, e achava as morenas da praia, melhores que as virtuais.