O TRABALHO AINDA DIGNIFICA O HOMEM?
"Prefiro a organização de trabalho desenvolvida pelas formigas e pelas abelhas àquela desenvolvida pelos humanos do mundo contemporâneo..." - disse o Prof. Pedro Paulo Boa Sorte da Silva, titular da cadeira de Sociologia da Universidade local, popularmente conhecido como Professor Boa Sorte - ao ser entrevistado por um repórter de uma rede televisiva local.
Ele prosseguiu reafirmando a sua admiração para com aqueles pequenos e notáveis seres, ao admitir que ambas as classes laboriosas possuem uma organização operacional e administrativa capaz de causar inveja a qualquer ser humano por mais civilizado e desenvolvido que ele pareça ser.
No formigueiro, assim como na colmeia, não há demissão em massa de formigas ou abelhas, nem redução do efetivo de trabalho sob a falsa justificativa da necessidade de conter os gastos excedentes, prevendo, assim, ajustar os lucros para o orçamento do exercício vindouro.
Igualmente, não há redução da jornada de trabalho visando, destarte, a diminuição do valor da remuneração a ser paga aos trabalhadores.
Da mesma forma, não há entidades representativas de classes "buzinando nos ouvidos" das classes laboriosas, ora pretendendo acordos faraônicos ou negociações economicamente inaceitáveis pelos detentores dos empregos, ora promovendo de forma indireta a exclusão de algumas dessas classes laboriosas do cenário produtivo de sua região.
As formigas e as abelhas não são capazes de arquitetar tamanhas armadilhas, o mínimo que elas poderão fazer é duplicar a sua força para suprir a incapacidade produtiva de um integrante de sua comunidade laborativa.
Demitir, reduzir o efetivo, e/ou a jornada de trabalho, assim como promover a redução da remuneração a ser paga a seus trabalhadores, são atitudes exclusivamente humanas. E esse mesmo homem, nos seus momentos de devaneios filosóficos, ainda ousa dizer que "o trabalho dignifica o homem".
No momento em que o Professor Boa Sorte expunha o seu ponto de vista acerca da organização do trabalho humano em relação ao das formigas e das abelhas, ele pôde observar a passagem de um enxame de uma espécie popularmente conhecida pelo nome de "abelha européia", o qual se aproximava de uma árvore frondosa existente defronte à Escola Sede do Saber, velho estabelecimento de ensino muito conhecido pelos ilustres moradores de Esperançópolis. Aquelas abelhas davam a entender que tinham a intenção de fixar uma hospedagem, ainda que de forma passageira, naquele lugar.
Sem nenhum receio de cometer alguma gafe ou provocar uma polêmica diante das câmeras da rede televisiva, o Professor Boa Sorte arrebatou com mais um de seus conhecidos rompantes:
- Observem senhores telespectadores e platéia aqui presente, como essas classe laboriosas apicultoras, encarregadas de conduzir os seus contingentes produtivos em buscas de novos horizontes são mais sensíveis que nós humanos. Acabamos de ver um grupo delas parando aqui para descansar e repor suas energias e com uma diferença: sem nos perturbar, atitude essa pouco comum no comportamento humano. E pasmem senhores e senhoras, parece que esse enxame aproveitou o ensejo para, de uma forma civilizada (sem agressões morais e/ou físicas), participar indiretamente do nosso debate em rede nacional e, com certeza, os homens de boa vontade estariam vendo esta matéria - finalizou ironicamente.
Enquanto isso, numa outra emissora de grande audiência em âmbito nacional, um representante de uma classe laboriosa humana em atividade, ao ser entrevistado pelo repórter que cobria a matéria no intuito de colher alguma opinião a respeito da polêmica entrevista do Professor Boa Sorte, simplesmente retrucou:
- Na qualidade de representante de uma das classes laboriosas ativas deste país, o que tenho a ver com o trabalho das formigas e das abelhas, uma vez que elas apenas são uns meros e insignificantes insetos?
A minha maior preocupação é com a oscilação cambial do dólar e com esse momento de instabilidade socioeconômico e financeiro em que nós humanos de todo o mundo estamos vivendo.
Agora, voltando a falar das abelhas e das formigas, eu nem sei se vale a pena elas trabalharem tanto assim. Eu até acho que se elas continuarem dessa forma, produzindo em demasia, sem se preocuparem com a questão do equilíbrio da balança comercial, fatalmente deixarão de aproveitar os bons momentos das oscilações comerciais envolvendo as exportações e importações tão necessárias à manutenção de um patamar aceitável relativo ao nosso PIB (Produto Interno Bruto).
E digo mais: se elas não atentarem para a questão comercial do "importar é o que importa", assim como não se preocuparem em manter acesa a chama da exportação contínua, a qual deverá ser incentivada diuturnamente nos meios produtivos envolvidos, disseminando a idéia de que quanto mais mandarmos para longe de nossa gente o que de melhor produzimos e nos contentarmos com tudo aquilo que sobrou, melhor será para a nossa balança comercial" - concluiu de forma altiva.
Naquele horário nobre de notícias nacionais televisivas o povo participante já não entendia mais o que se passava com aqueles repórteres tão preocupados com as atividades laboriosas das abelhas e das formigas, em se considerando que a situação das classes trabalhadoras dos humanos é periclitante na atual conjuntura, e num tom de espanto e indignação, o Professor Boa Sorte passou a se perguntar:
- Se o trabalho realmente ainda dignifica o homem e se o que ele faz nada tem a ver com o trabalho das abelhas e das formigas, apesar de a organização destas ser mais bem elaborada que a daquele, por que será que os homens que podem oferecer trabalho para a classe operária humana não se espelham nas diversidades de atividades disponíveis das classes "operárias" desses insetos?
Por outro lado, o que ainda nos resta fazer para que a velha máxima “o trabalho dignifica o homem" justifique o aspecto e o teor filosófico da questão?
Será que o homem se tornará digno ao se ver trabalhando numa atividade digna e com remuneração condizente com a sua formação profissional ou o trabalho dignificará apenas aquele homem que tiver a felicidade e/ou sorte de encontrar qualquer atividade, pouco importando a remuneração a ser percebida?
Enquanto aquele questionamento era feito em praça pública, do outro lado da cidade, desta feita já nos estúdios, ambas as emissoras passaram o resto da noite discutindo a complexidade do tema, como se naquele momento tivesse sido encontrada a fórmula mágica para solucionar todos os problemas de cunho socioeconômico do mundo.
- Afinal, o trabalho remunerado dignifica ou não o homem (operário) dos nossos dias? - alfinetou.
O Professor Boa Sorte ao terminar a entrevista foi para sua casa e ficou muito radiante com a repercussão daquele debate, uma vez que foi ele o principal responsável pela boa audiência de ambas "as máquinas de fazer notícias" e por fim, ficou ainda mais radiante quando um dos repórteres encerrou o noticiário usando a seguinte expressão:
"Boa noite senhores e senhoras e Boa Sorte para todos os homens de boa vontade! E não se esqueçam: O homem não se sentirá feliz e realizado como ser útil no âmbito da sociedade onde se encontrar inserido, se em contrapartida ele não tiver de onde retirar o seu sustento e o de sua família.
Caberá a cada um de nós e demais seguimentos da sociedade, repensarmos a respeito de uma maneira menos traumatizante de encontrarmos uma solução urgente na consecução/obtenção de oferta de mão-de-obra, pelo menos para os jovens que estão querendo ingressar no mercado de trabalho.
O nosso país necessita crescer, o povo precisa participar mais apresentando alternativas viáveis para o seu efetivo crescimento, o empresariado precisa ser mais participativo e deixar de lado um pouco desse seu espírito ganancioso e investir um pouco mais no processo produtivo. O trabalhador em geral e a sociedade como um todo, de mãos dadas, têm condições de reverter esse quadro. A hora é agora!
Como podemos ver, o trabalho só poderá dignificar o homem que tiver um trabalho bem remunerado e digno, essa é a nossa opinião - concluiu.
E você, na qualidade de leitor e crítico natural dessa questão, o que nos falaria a respeito?
"Prefiro a organização de trabalho desenvolvida pelas formigas e pelas abelhas àquela desenvolvida pelos humanos do mundo contemporâneo..." - disse o Prof. Pedro Paulo Boa Sorte da Silva, titular da cadeira de Sociologia da Universidade local, popularmente conhecido como Professor Boa Sorte - ao ser entrevistado por um repórter de uma rede televisiva local.
Ele prosseguiu reafirmando a sua admiração para com aqueles pequenos e notáveis seres, ao admitir que ambas as classes laboriosas possuem uma organização operacional e administrativa capaz de causar inveja a qualquer ser humano por mais civilizado e desenvolvido que ele pareça ser.
No formigueiro, assim como na colmeia, não há demissão em massa de formigas ou abelhas, nem redução do efetivo de trabalho sob a falsa justificativa da necessidade de conter os gastos excedentes, prevendo, assim, ajustar os lucros para o orçamento do exercício vindouro.
Igualmente, não há redução da jornada de trabalho visando, destarte, a diminuição do valor da remuneração a ser paga aos trabalhadores.
Da mesma forma, não há entidades representativas de classes "buzinando nos ouvidos" das classes laboriosas, ora pretendendo acordos faraônicos ou negociações economicamente inaceitáveis pelos detentores dos empregos, ora promovendo de forma indireta a exclusão de algumas dessas classes laboriosas do cenário produtivo de sua região.
As formigas e as abelhas não são capazes de arquitetar tamanhas armadilhas, o mínimo que elas poderão fazer é duplicar a sua força para suprir a incapacidade produtiva de um integrante de sua comunidade laborativa.
Demitir, reduzir o efetivo, e/ou a jornada de trabalho, assim como promover a redução da remuneração a ser paga a seus trabalhadores, são atitudes exclusivamente humanas. E esse mesmo homem, nos seus momentos de devaneios filosóficos, ainda ousa dizer que "o trabalho dignifica o homem".
No momento em que o Professor Boa Sorte expunha o seu ponto de vista acerca da organização do trabalho humano em relação ao das formigas e das abelhas, ele pôde observar a passagem de um enxame de uma espécie popularmente conhecida pelo nome de "abelha européia", o qual se aproximava de uma árvore frondosa existente defronte à Escola Sede do Saber, velho estabelecimento de ensino muito conhecido pelos ilustres moradores de Esperançópolis. Aquelas abelhas davam a entender que tinham a intenção de fixar uma hospedagem, ainda que de forma passageira, naquele lugar.
Sem nenhum receio de cometer alguma gafe ou provocar uma polêmica diante das câmeras da rede televisiva, o Professor Boa Sorte arrebatou com mais um de seus conhecidos rompantes:
- Observem senhores telespectadores e platéia aqui presente, como essas classe laboriosas apicultoras, encarregadas de conduzir os seus contingentes produtivos em buscas de novos horizontes são mais sensíveis que nós humanos. Acabamos de ver um grupo delas parando aqui para descansar e repor suas energias e com uma diferença: sem nos perturbar, atitude essa pouco comum no comportamento humano. E pasmem senhores e senhoras, parece que esse enxame aproveitou o ensejo para, de uma forma civilizada (sem agressões morais e/ou físicas), participar indiretamente do nosso debate em rede nacional e, com certeza, os homens de boa vontade estariam vendo esta matéria - finalizou ironicamente.
Enquanto isso, numa outra emissora de grande audiência em âmbito nacional, um representante de uma classe laboriosa humana em atividade, ao ser entrevistado pelo repórter que cobria a matéria no intuito de colher alguma opinião a respeito da polêmica entrevista do Professor Boa Sorte, simplesmente retrucou:
- Na qualidade de representante de uma das classes laboriosas ativas deste país, o que tenho a ver com o trabalho das formigas e das abelhas, uma vez que elas apenas são uns meros e insignificantes insetos?
A minha maior preocupação é com a oscilação cambial do dólar e com esse momento de instabilidade socioeconômico e financeiro em que nós humanos de todo o mundo estamos vivendo.
Agora, voltando a falar das abelhas e das formigas, eu nem sei se vale a pena elas trabalharem tanto assim. Eu até acho que se elas continuarem dessa forma, produzindo em demasia, sem se preocuparem com a questão do equilíbrio da balança comercial, fatalmente deixarão de aproveitar os bons momentos das oscilações comerciais envolvendo as exportações e importações tão necessárias à manutenção de um patamar aceitável relativo ao nosso PIB (Produto Interno Bruto).
E digo mais: se elas não atentarem para a questão comercial do "importar é o que importa", assim como não se preocuparem em manter acesa a chama da exportação contínua, a qual deverá ser incentivada diuturnamente nos meios produtivos envolvidos, disseminando a idéia de que quanto mais mandarmos para longe de nossa gente o que de melhor produzimos e nos contentarmos com tudo aquilo que sobrou, melhor será para a nossa balança comercial" - concluiu de forma altiva.
Naquele horário nobre de notícias nacionais televisivas o povo participante já não entendia mais o que se passava com aqueles repórteres tão preocupados com as atividades laboriosas das abelhas e das formigas, em se considerando que a situação das classes trabalhadoras dos humanos é periclitante na atual conjuntura, e num tom de espanto e indignação, o Professor Boa Sorte passou a se perguntar:
- Se o trabalho realmente ainda dignifica o homem e se o que ele faz nada tem a ver com o trabalho das abelhas e das formigas, apesar de a organização destas ser mais bem elaborada que a daquele, por que será que os homens que podem oferecer trabalho para a classe operária humana não se espelham nas diversidades de atividades disponíveis das classes "operárias" desses insetos?
Por outro lado, o que ainda nos resta fazer para que a velha máxima “o trabalho dignifica o homem" justifique o aspecto e o teor filosófico da questão?
Será que o homem se tornará digno ao se ver trabalhando numa atividade digna e com remuneração condizente com a sua formação profissional ou o trabalho dignificará apenas aquele homem que tiver a felicidade e/ou sorte de encontrar qualquer atividade, pouco importando a remuneração a ser percebida?
Enquanto aquele questionamento era feito em praça pública, do outro lado da cidade, desta feita já nos estúdios, ambas as emissoras passaram o resto da noite discutindo a complexidade do tema, como se naquele momento tivesse sido encontrada a fórmula mágica para solucionar todos os problemas de cunho socioeconômico do mundo.
- Afinal, o trabalho remunerado dignifica ou não o homem (operário) dos nossos dias? - alfinetou.
O Professor Boa Sorte ao terminar a entrevista foi para sua casa e ficou muito radiante com a repercussão daquele debate, uma vez que foi ele o principal responsável pela boa audiência de ambas "as máquinas de fazer notícias" e por fim, ficou ainda mais radiante quando um dos repórteres encerrou o noticiário usando a seguinte expressão:
"Boa noite senhores e senhoras e Boa Sorte para todos os homens de boa vontade! E não se esqueçam: O homem não se sentirá feliz e realizado como ser útil no âmbito da sociedade onde se encontrar inserido, se em contrapartida ele não tiver de onde retirar o seu sustento e o de sua família.
Caberá a cada um de nós e demais seguimentos da sociedade, repensarmos a respeito de uma maneira menos traumatizante de encontrarmos uma solução urgente na consecução/obtenção de oferta de mão-de-obra, pelo menos para os jovens que estão querendo ingressar no mercado de trabalho.
O nosso país necessita crescer, o povo precisa participar mais apresentando alternativas viáveis para o seu efetivo crescimento, o empresariado precisa ser mais participativo e deixar de lado um pouco desse seu espírito ganancioso e investir um pouco mais no processo produtivo. O trabalhador em geral e a sociedade como um todo, de mãos dadas, têm condições de reverter esse quadro. A hora é agora!
Como podemos ver, o trabalho só poderá dignificar o homem que tiver um trabalho bem remunerado e digno, essa é a nossa opinião - concluiu.
E você, na qualidade de leitor e crítico natural dessa questão, o que nos falaria a respeito?