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POSSO ACENDER UMA MACONHA?

Sexta-feira, dia de trabalho normal, mas que decidi reservar, pura e simplesmente, para o meu lazer. Sendo assim, saí da cama lá pelas 10, um relaxante banho, um copo de leite com achocolatado diet (alguém vai rir com isso), bermuda, camiseta, mp3 a tiracolo e teve início uma boa caminhada pela orla de Santos, minha bela cidade.

Dia bonito, sol forte, escolhi caminhar pelo calçadão interno, ao lado da areia. Para quem não conhece a orla de Santos, informo que são dois calçadões em toda a sua extensão. Um fica ao lado das pistas dos automóveis e o outro ao lado da areia, separados pelo belíssimo jardim que está no Guinness Book, como o maior jardim praiano do mundo.

Em determinado momento resolvi dar uma descansada do sol que estava de rachar a cuca, e sentei-me em um dos confortáveis e modernos bancos de madeira que proliferam por todos os lugares da orla. Ali fiquei por uns bons momentos, ouvindo música de qualidade vinda do mp3 e apreciando o belíssimo mar azul à minha frente. Deu até para fazer uma breve meditação naquele momento zen.

Ainda com os olhos fechados, senti o leve balançar do banco ficando evidente que alguém havia se sentado ali, dividindo o espaço comigo. Não ligo para isso, desde que não me incomodem naquilo que me propus a fazer. Olhei de relance e pude ver que era uma moça que estava a meu lado, mas não atentei para os detalhes. Apenas que estava mexendo em algo dentro da bolsa.

Depois de mais ou menos uns dez minutos ela me chama, desligo o mp3, e a ouço dizer na maior cara dura:
— O senhor se incomoda se eu acender uma maconha?
— Não, eu não me incomodo. Você é que talvez se incomode, respondi-lhe.
— Eu sou só usuária, não liga não.
— Tudo bem, mas, se não for pedir muito, gostaria que acendesse sua maconha em outro lugar. Quem passar e sentir o cheirinho vai olhar pra mim um tanto desconfiado, sabe como é né?
— É, acho que o senhor tem razão.
— Obrigado.
— Tchau!
— Tchau!

Levantou-se e saiu andando com o “pacau” ainda apagado e durante o tempo em que a segui com o olhar, não a vi acendê-lo. Deve ter lá uns 20 anos, moça bonita, bem arrumada e muito educada – pelo menos comigo ela foi.

Ainda fiquei no meu banco por mais uns quinze minutos quando retomei a caminhada. Pude então vê-la mais à frente, sentada em outro banco, com um cigarro comum (?) entre os dedos. Estava conversando com um “boy” que eu já conheço da área e que puxa um belo baseado. Os dois aparentemente felizes e num papo super descontraído (!). Ainda fiz menção de cumprimentá-la, mas ela não me viu.

Não vou divagar sobre o que leva uma menina jovem, bonita e educada a fumar maconha. Cada um faz da sua vida o que achar melhor e não sou eu quem vai recriminar quem quer que seja. Ponto.

Fiz este texto apenas para deixar registrado a que ponto chegou, nos dias de hoje, a informalidade no uso das drogas. E também, para citar a naturalidade com que encarei a situação. Sinal dos tempos...
   


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