" É só olhar, depois sorrir, depois gostar..."'
Os versos da canção de Johnny Alff remetem meus sentidos à Ponta Negra de minha adolescência. Veraneio, casa cheia de crianças e adolescentes. Morros , céu e mar à nossa disposição.
As músicas nos fins de semana, no entanto, eram escolhidas por meus pais e assim conheci Noel, através de Betânia, Elis, Maysa, Vinicius, Toquinho e Maria Creusa.
Ouvi inúmeras vezes O Que É Amar e sua letra hoje é saudade, que vem com o verão. Saudade do tempo em que as relações amorosas começavam com o olhar, passavam pelo sorriso, chegavam ao beijo e ao gostar, que não precisava ser eterno, mas que era muito bom enquanto durava.
Não se pensava muito. Não havia espaço para especulações e as fantasias eram vividas a dois.
Claro que havia triângulos amorosos, mas era fácil desfazê-los. A presença de outra pesssoa na relação era percebida pelo sorriso, pelo toque e pelo olhar do outro.
"Você está diferente", era uma frase comum e normalmente surtia efeito: a verdade vinha à tona.
Só ficávamos juntos se gostassemos um do outro. Não havia outra intenção. A minha memória seletiva diz isso e hoje eu confio nela.
Claro que havia todo o tempo do mundo para uma adolescente que descobria o saboroso despertar do amor entre olhares, sorrisos e amassos.
Havia também uma inocência abençoada que excluía terceiras intenções e dava coragem para seguir buscando quem fizesse o coração acelerar, causasse o frio na barriga e a vontade de ficar cada vez mais perto do escolhido.
Depois de anos de olhares que vêm e vão; depois de tanta complicação, foi-se a inocência.
Algumas intenções são óbvias e a experiência ajuda a tratar delas; outras não e estas deixam medo ou travo no coração.
Era bem mais fácil quando a resposta vinha como na letra de Johnny Alff: " ..você olhou, você sorriu, me fez gostar".
* Imagem: Ponta Negra, Natal, Rio G. Do Norte.