O gigante Inconfortável

O G I G A N T E D E S C O N F O R T Á V E L

Os povos escolhem seus símbolos a sua imagem e semelhança. Sempre me chamou a atenção em nosso hino uma expressão: “deitado em berço esplêndido”, alvo de muitas brincadeiras, piadas até sobre a nossa índole. Refletindo sobre tal figura como resultado de nosso inconsciente coletivo, vi que ultimamente ele andava inquieto, pois detectou que alguns de seus filhos, encastelados no governo, criado para gerir a todos, estavam revivendo antigas práticas, mas desta vez com propósitos novos, o de mexer em seu berço esplêndido, ou na história, que se move cada vez que altera sua posição. Na verdade ela está sempre em movimento, mas é chamado a intervir quando grandes mudanças estão em curso. Lembrou que um de seus filhos, eleito presidente, chegou ao suicídio por representar grupos que tinham poder demais. Foi traumático se mover desse jeito. Viu também que outro presidente mudou a capital para o centro do País e que o novo local parecia programado para o povo não se reunir, fazer manifestações, reivindicar igualdade de direitos. Nosso gigante é democrático e quer que seus filhos sejam mais bem tratados: nada de filas humilhantes para uma consulta médica, escolas à altura da inteligência e necessidades de uma sociedade avançada e... tantas coisas que sabe vai levar séculos para existir. Ele é sábio e não gosta de leviandade. Observou grupos de seus filhos, usando farda, arvorarem-se a governar o País. Levaram vinte anos para descobrir que a lógica da caserna não combina com uma sociedade pluralista, mas foram para casa com menos trauma que outros dois que conheceram o exílio. Ele decididamente não gosta de intervir e ficou satisfeito quando elegeram um professor, mas pensou: ele não demonstra amar o povo, por isto seu indicado vai perder a eleição para outro mais esperto. O último, calcado na mídia, esta uma boa coisa a seu ver, mas para vender sabonetes, como lembrou o Gabeira. Pois lhe pareceu ingênuo demais. O ofício de representá-lo requer muitas qualidades e uma da qual não abre mão é o respeito: andar por aí colocando bonezinhos, falar demais, sempre foram motivos de preocupação, por parecer que o mesmo não sabe a importância do cargo que ocupa. Nos últimos meses, porém, nosso gigante parecia mais satisfeito, pois observara que suas representantes diletas, as instituições, davam mostra de desenvoltura suficiente para garantir que a turbulência que assola Brasília passe, fazendo menos estragos que promessas. Problemas e mais problemas, no entanto, o deixam inquieto pela dificuldade que seus filhos tem demonstrado em diminuir a corrupção, a violência. Confia, mesmo assim, que o a democracia os ensine a melhor se dedicar em construir um País que não lembre em alguns lugares a Biafra e em outros a Bélgica, pois todos merecem fazer parte de uma figura melhor que aquela apresentada para seus pares na constelação mundial.

Marluiza
Enviado por Marluiza em 03/04/2006
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