Eu gostaria de saber! O que está acontecendo com o mundo em que vivemos, com as nossas famílias, com a nossa educação?
Como versa a música de Zé Ramalho “Como é triste a tristeza mendigando um sorriso”.
Presenciar a aflição de um Pai ou de uma Mãe que choram desesperadamente porque perderam os seus filhos, que ainda estão vivos, feitos Zumbis, para uma sociedade sintética que se forjou em um profundo emaranhado de erros, muito erros, durante a nossa evolução.
Foi noutro dia, e não faz muito tempo, que eu estava em um desses “Bares da Vida”, fazendo um lanche, quando ouvi nitidamente a conversa do balconista com um senhor que aparentava ter os seus 55 anos (mais tarde fiquei sabendo que ali estava um cara apenas alguns anos, mais velho do que eu, que tenho 43 anos). A conversa foi rápida:
_Me dá mais uma só para agüentar ter que encarar o ambiente lá em casa.
_Mas está tão ruim assim? Perguntou o balconista.
_Tenho medo de morrer. É um olho aberto e outro fechado. Afinal, que tenta uma vez, tenta até conseguir.
_Nossa, e a sua esposa, fica sozinha? Não tem medo?
_Sabe como é né! Mulher é sempre mais teimosa e acha que Deus sempre vai dar um jeitinho. Mas “Deus só ajuda a quem cedo madruga”. Não é esse o ditado?
_E como é que você agüenta isso cara?
_Acho que me deixei levar pela ignorância. Sabe, os filhos de hoje em dia necessitam de muita atenção para não conhecerem o mundo de forma errada. Eu e a minha esposa somos simples e nunca nos interessamos em estudar e procurar dar a eles a atenção merecida na infância.
E continuou...
_A nossa vida foi só de trabalho, e você sabe né, sem incentivo as crianças não tem rumo na vida. Agora estou aqui, bebendo algo para encarar aquele marmanjo, vezes travado de droga, vezes, jogado em um canto da sala, jurando a todos de morte.
O balconista, embora pessoa simples, parecia ter mais esclarecimento do que aquele homem deploravelmente moribundo. Foram poucas as palavras, mas muito significativas.
_Sabe amigo, o meu “pequeno” tem apenas cinco anos e já percebo em seu olhar certa ânsia de aprender as coisas do mundo. Minha esposa é camelô. Juntos trabalhamos para sustentar à nós e a ele.
Respirou fundo, pediu licença para atender rapidamente a um outro freguês e retornou.
_Somo simples e a renda é pouca, mas resolvemos entrar nessa onda da tal da educação. É legal sabe. Na hora do almoço a minha esposa deixa a barraca dela com uma amiga e vai para o curso de informática, e à noite, saio daqui e vou terminar os meus estudos.
_E isso adianta em que meu rapaz? Perguntou o pobre sofredor.
_Ajuda a responder as questões, tirar as dúvidas daquele pequenino com a ânsia do saber, para que ele não corra para as ruas e vá saciar a sua sede de conhecimento com os nossos traficantes e donos de gangues e comunidades idealistas que muito conhecem, mais nada são, a não ser, verdadeiros parasitas em nossa sociedade.
_Poxa meu rapaz, você fala difícil heim!
_Foi uma aula interessante que assisti ontem à noite com um professor de história. O tempo passou e aquele pobre homem se despediu do balconista e foi encarar o seu problema de frente.
Fiquei triste com toda aquela conversa, mas não tive coragem de responder ao gesto de profundo desagrado daquele balconista em relação ao pobre homem, ao direcionar o olhar a mim.
Dias depois, lendo um desses jornais tendenciosos, que condenam e absolvem em velocidade que faria inveja à nossa Justiça, li uma matéria sobre um casal encontrado morto dentro de casa, por vizinhos, em condições horrendas, quase que satânicas.
O principal suspeito era o filho do casal, drogado e todo cheio de marcas diabólicas pelo corpo. Estava foragido. No local do crime, muito sangue, um dos corpos dilacerados e uma coisa estranha que talvez só fizesse mesmo sentido para mim.
A matéria falava de um pião e uma fieira encontrada nas mãos de uma das vítimas, o homem.
Pensei, pensei e confesso que relutei em acreditar no que li, mas cheguei a uma conclusão. Talvez aquele pobre homem estivesse tentando, em seu último apelo mostrar ao filho assassino que ainda era tempo, tempo de retomar a vida em família, talvez lhe mostrando algo de sua infância.
No noticiário, dois dias depois, o repórter policial disse que o jovem assassino foi capturado.
No depoimento ao Delegado ele disse que se irritou quando a Mãe porque ela tentou tirar dele um papelote de cocaína, e o Pai começou a chorar na sua frente, desesperado que estava, apontando-lhe aquele artefato lúdico dizendo:
...Por favor, meu filho, me dê uma chance. Vem brincar comigo minha criança!
Na Delegacia...
_Porra seu Dotô. O maluco me chamou de criança e quis me abraçar. Aí, eu revirei os olhos e vi duas entidades maléficas. Dei uma gargalhada e passei a foice neles. Meio drogado que estava ainda, fungou o nariz e olhou para baixo por um tempo, depois levantou a cabeça e finalizou o seu depoimento:
_O tempo passou merda, não sou mais criança!
É, o tempo passa e existem coisas que não conseguimos recuperar. Mas, se você ainda tem em casa um pião e uma fieira, ou qualquer outro tipo de jogo, chame o seu filho para brincar. E se puder, leia algo com ele, ou perto dele. Espero que consiga fazê-lo antes que ele conheça o mundo pelo caminho da rua. A porta vai se fechar!
Como versa a música de Zé Ramalho “Como é triste a tristeza mendigando um sorriso”.
Presenciar a aflição de um Pai ou de uma Mãe que choram desesperadamente porque perderam os seus filhos, que ainda estão vivos, feitos Zumbis, para uma sociedade sintética que se forjou em um profundo emaranhado de erros, muito erros, durante a nossa evolução.
Foi noutro dia, e não faz muito tempo, que eu estava em um desses “Bares da Vida”, fazendo um lanche, quando ouvi nitidamente a conversa do balconista com um senhor que aparentava ter os seus 55 anos (mais tarde fiquei sabendo que ali estava um cara apenas alguns anos, mais velho do que eu, que tenho 43 anos). A conversa foi rápida:
_Me dá mais uma só para agüentar ter que encarar o ambiente lá em casa.
_Mas está tão ruim assim? Perguntou o balconista.
_Tenho medo de morrer. É um olho aberto e outro fechado. Afinal, que tenta uma vez, tenta até conseguir.
_Nossa, e a sua esposa, fica sozinha? Não tem medo?
_Sabe como é né! Mulher é sempre mais teimosa e acha que Deus sempre vai dar um jeitinho. Mas “Deus só ajuda a quem cedo madruga”. Não é esse o ditado?
_E como é que você agüenta isso cara?
_Acho que me deixei levar pela ignorância. Sabe, os filhos de hoje em dia necessitam de muita atenção para não conhecerem o mundo de forma errada. Eu e a minha esposa somos simples e nunca nos interessamos em estudar e procurar dar a eles a atenção merecida na infância.
E continuou...
_A nossa vida foi só de trabalho, e você sabe né, sem incentivo as crianças não tem rumo na vida. Agora estou aqui, bebendo algo para encarar aquele marmanjo, vezes travado de droga, vezes, jogado em um canto da sala, jurando a todos de morte.
O balconista, embora pessoa simples, parecia ter mais esclarecimento do que aquele homem deploravelmente moribundo. Foram poucas as palavras, mas muito significativas.
_Sabe amigo, o meu “pequeno” tem apenas cinco anos e já percebo em seu olhar certa ânsia de aprender as coisas do mundo. Minha esposa é camelô. Juntos trabalhamos para sustentar à nós e a ele.
Respirou fundo, pediu licença para atender rapidamente a um outro freguês e retornou.
_Somo simples e a renda é pouca, mas resolvemos entrar nessa onda da tal da educação. É legal sabe. Na hora do almoço a minha esposa deixa a barraca dela com uma amiga e vai para o curso de informática, e à noite, saio daqui e vou terminar os meus estudos.
_E isso adianta em que meu rapaz? Perguntou o pobre sofredor.
_Ajuda a responder as questões, tirar as dúvidas daquele pequenino com a ânsia do saber, para que ele não corra para as ruas e vá saciar a sua sede de conhecimento com os nossos traficantes e donos de gangues e comunidades idealistas que muito conhecem, mais nada são, a não ser, verdadeiros parasitas em nossa sociedade.
_Poxa meu rapaz, você fala difícil heim!
_Foi uma aula interessante que assisti ontem à noite com um professor de história. O tempo passou e aquele pobre homem se despediu do balconista e foi encarar o seu problema de frente.
Fiquei triste com toda aquela conversa, mas não tive coragem de responder ao gesto de profundo desagrado daquele balconista em relação ao pobre homem, ao direcionar o olhar a mim.
Dias depois, lendo um desses jornais tendenciosos, que condenam e absolvem em velocidade que faria inveja à nossa Justiça, li uma matéria sobre um casal encontrado morto dentro de casa, por vizinhos, em condições horrendas, quase que satânicas.
O principal suspeito era o filho do casal, drogado e todo cheio de marcas diabólicas pelo corpo. Estava foragido. No local do crime, muito sangue, um dos corpos dilacerados e uma coisa estranha que talvez só fizesse mesmo sentido para mim.
A matéria falava de um pião e uma fieira encontrada nas mãos de uma das vítimas, o homem.
Pensei, pensei e confesso que relutei em acreditar no que li, mas cheguei a uma conclusão. Talvez aquele pobre homem estivesse tentando, em seu último apelo mostrar ao filho assassino que ainda era tempo, tempo de retomar a vida em família, talvez lhe mostrando algo de sua infância.
No noticiário, dois dias depois, o repórter policial disse que o jovem assassino foi capturado.
No depoimento ao Delegado ele disse que se irritou quando a Mãe porque ela tentou tirar dele um papelote de cocaína, e o Pai começou a chorar na sua frente, desesperado que estava, apontando-lhe aquele artefato lúdico dizendo:
...Por favor, meu filho, me dê uma chance. Vem brincar comigo minha criança!
Na Delegacia...
_Porra seu Dotô. O maluco me chamou de criança e quis me abraçar. Aí, eu revirei os olhos e vi duas entidades maléficas. Dei uma gargalhada e passei a foice neles. Meio drogado que estava ainda, fungou o nariz e olhou para baixo por um tempo, depois levantou a cabeça e finalizou o seu depoimento:
_O tempo passou merda, não sou mais criança!
É, o tempo passa e existem coisas que não conseguimos recuperar. Mas, se você ainda tem em casa um pião e uma fieira, ou qualquer outro tipo de jogo, chame o seu filho para brincar. E se puder, leia algo com ele, ou perto dele. Espero que consiga fazê-lo antes que ele conheça o mundo pelo caminho da rua. A porta vai se fechar!