Território Comanche
Durante uma boa parte dos anos noventa do século vinte um belo país em tempos chamado Jugoslávia foi dilacerado por uma violenta guerra civil entre os principais povos que um dia fizeram dele talvez o mais próspero território das nações comunistas. Ódios ancestrais acicatados pelos diferentes interesses europeus (nunca assumidos contudo, enquanto a barbárie tinha lugar!) transformaram os Balcãs num perfeito mostruário de tudo quanto de mau o ser humano é capaz. Apesar de, aparentemente, haver um mau identificado, responsável pelas mediatizadas e repetidas chacinas ali perpetradas, os Sérvios eram apenas uma pequena parte do dramático problema daquele que se tornou numa impossível convivência entre os seus vizinhos Muçulmanos e Croatas, todos cheios de vontade em espiar os ódios acumulados pelos diferentes senhores da guerra durante os cinquenta anos que durou este país. E foi assim que, pela vontade de alguns políticos influentes, a guerra acabou por rebentar e transformar antigos vizinhos em novos inimigos. E foi assim que a Jugoslávia se tornou num campo experimental de guerra de boa parte do mundo, pois em breve mercenários de quase todas as nações da velha Europa se encontraram a combater contra voluntários islâmicos da Chechénia (uma república Russa que em breve iniciou a sua guerra de secessão) do Afeganistão e de um pouco por todo o mundo Islâmico, enquanto a ONU humilhada assistia ao horror, perfeitamente manietada pelos diferentes “lobies” no terreno e incapaz durante a maior parte do conflito de desempenhar o papel para o qual fora criada na segunda metade dos anos quarenta desse dramático século. E foi então que aconteceu Sarajevo. Sarajevo era a capital da recém-formada república da Bósnia Herzegovina, um país minúsculo de etnia muçulmana e que canalizou o ódio dos poderosos sérvios. Foi então que ocorreu o pior cerco a uma cidade europeia desde o final da Segunda Guerra Mundial. Incrustados nas colinas que cercavam a urbe, e apoiados pela nova Jugoslávia entretanto formada (pela principal etnia sérvia) os sérvios bombardearam-na impiedosamente ou, com os famosos “Snipers,” alvejavam qualquer coisa que se mexesse, qualquer alvo desde que tivesse um sopro de vida, originando massacres que, testemunhados pelos “Mass Media” do planeta tiveram um enorme impacto na opinião pública do velho continente, obrigando a humilhada ONU a agir em força por fim. E foi assim que os caças da Nato em concordância com esta organização flagelaram as posições de artilharia sistematicamente, até que a par das pressões politicas o cerco teve fim, pondo por fim um ponto final na guerra balcânica. Pessoalmente acho que parte desta vitória deve ser atribuída aos corajosos repórteres que testemunharam o cerco e que lhe deram um rosto, que arriscaram as suas vidas para que as vítimas anónimas tivessem um rosto, para que a história das suavas vidas não fosse esquecida. E esses homens e mulheres duma coragem sublime, pois tal como as vítimas não estavam imunes às bombas ou aos atiradores fugitivos, vieram de todo o mundo, alguns se calhar com o sonho da reportagem duma vida, mas a maior parte deles com a aspiração de transmitir o que realmente se estava a passar no terreno. O seu importante testemunho foi elogiado por muitos, mas penso que o ponto mais alto das homenagens foi um filme de 1997 chamado Território Comanche, filme simples, modesto até, mas exemplar da coragem destes heróis nunca assumidos. E na película diziam que o nome vinha dos “Westerns", onde existia uma zona onde não se viam os tiros, mas que se sentiam quando as balas sibilavam ao seu lado ou levavam mais uma vida com elas; uma zona também ali existente, uma zona de morte e de sofrimento indizível que só a audaciosa coragem dos jornalistas permitiu que fosse filmada e escrita. Mais tarde a guerra voltou à zona, quando os americanos com a NATO e a ONU atreladas à sua forma dúbia de fazer política decidiram bombardear a Jugoslávia de maneira a “salvar” uma obscura província chamada Kosovo, mas isso são outras histórias de ignominia que quase nada possuem em comum com a heroicidade daqueles que viveram e morreram no
Território Comanche
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