Maria Baiana

Maria Baiana trabalhou primeiro em casa de tio Antonio e depois foi para a casa de mamãe. Com ele aprendeu a cozinhar muito bem, à moda paulista. Era divertidíssima. Sozinha em São Paulo, morava no emprego, tinha deixado os seis ou sete filhos com a sogra na Bahia. Mais tarde um deles, que precisava de alguns cuidados, o Zé da Maria, veio e ficou morando lá também. Era magrinho demais. Foi ficando, todos gostavam dele. Brincava (e tomava conta) dos nossos filhos quando a família se reunia. Ela, branquíssima, de faces rosadas e o Zé, pretinho. De farra, sempre dizia: sái de perto, não gosto de negro! Todos seus filhos eram negros. O ex-marido, “um negão” - segundo suas próprias palavras - foi embora com a irmã dela... Aos poucos os outros filhos foram chegando em SP. Todos bem educados,arranjaram bons empregos. O Zé, desde os tempos da casa de minha mãe, trabalhava em uma locadora e acho que lá permanece, mas atualmente trabalha também em um restaurante. Faz tempo que não o vejo, sei que se casou e tem filhos bonitos, inclusive uma menina loira de olhos claros.

Quando fazia algum prato especial, Maria telefonava, ela mesma, para nos convidar. Gostava também de me chamar para o almoço no dia do meu aniversário, sempre apresentando uma surpresa, algo de minha preferência.

Ela gostava de beber cachaça aos sábados e domingos. Mas só depois de terminado o serviço. Divertia-nos com comentários interessantes e pertinentes: “Não sei por que os políticos vivem dizendo que fazem isto ou aquilo. Já imaginou eu entrar na sala segurando uma travessa e anunciar: fui eu que fiz! Olhem só que bonito! Está uma delícia!... Não faço nada mais que minha obrigação! Eles também!!!”

Depois de muito tempo conosco, ela voltou para a Bahia por causa da mãe que estava com mais de cem anos e ainda vivia com o marido velhinho. Além de se ocupar da casa, a danada até subia em árvores...