Estrada para o Inferno

Sempre pego ônibus no mesmo local. Ponto final. Sempre tem umas seis filas. Sempre formo outra, pois gosto de um lugar específico e disputado. Pago o preço de acordar mais cedo e enfrentar as filas. Sempre ouço música de manhã ou o noticiário. Sempre observo as pessoas. Têm as ridículas, as belas, as extravagantes, as feias. Gosto de analisar as roupas que vestem e seus semblantes. Um hábito.

Na frente das filas há uma cerca e um espaço para a fila para deficientes, idosos, crianças, grávidas, débeis mentais, etc...

No meu primeiro lugar comecei a observar a fila especial.

Meu Deus! Quanta discrepância! Tinha um homem sem braços e usava ganchos como mãos, logo atrás uma senhora que lembrava um Hobbit, um velho sujo e devia ser fedorento, uma menina tão esquelética e branca que lembrava um cotonete.

Uma coisa era comum, os semblantes cansados e doentes de todos. Parecia que estavam indo a um enterro.

Quase no fim da fila reparei numa dedicada mãe. Estava com os cabelos molhados, indicando que tomou seu banho matinal. Suas três crianças estavam todas de cabelos molhados e muito bem arrumadas. Uma escadinha de, no chute, um menino de cinco, uma menina de quatro e outra de três!

A mãe, rechonchudinha, não tinha o rosto doentio e cansado, parecia feliz e descontraída. Sorria para seus filhotes, e eles demonstravam amá-la muito. Um oásis vê-los. Seis e meia da manhã. Essa mãezona levantou que horas!? Acordou todos, cuidou de todos, inclusive de si mesma. E ainda cuidava, pois, seu sorriso era fruto de saúde mental e emocional. Curtia os seus filhos, curtia os momentos com eles naquela fila especial que contava com umas vinte pessoas...

Outra coisa chamou-me a atenção. A menorzinha me olhava. Sorrindo cantarolava algo. Uma graça! Eu, com fones do ouvido e um MP4, curtia os ácidos acordes do AC/DC, estaria a menininha cantando comigo e Brian Johnson?

Os ônibus iam chegando e levando as pessoas para seus destinos que para muitos soa como a canção do AC/DC: “E eu estou descendo de qualquer jeito. Estou na estrada para o inferno”.

Alex Holy Diver
Enviado por Alex Holy Diver em 10/12/2008
Código do texto: T1328362
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