A MORTE DAS LÁGRIMAS
O homem só quer ganhar. Faz de tudo pra ganhar... Isso não é ruim. Mas pode tornar o homem podre... Ah, isso pode! O homem arrisca na possibilidade de perder, de ser um verme, de ser ridículo, porque é ávido pelo desejo de ganhar.
Para vencer o homem é capaz de arriscar a queda de um precipício. É capaz de arriscar a cabeça na guilhotina... Um rei branco, o homem arrisca, para comer uma rainha preta!
Se o homem não fosse tão obcecado pela disputa, pela vitória, pela vontade de se achar o melhor e querer sempre ser o maior de todos, um pugilista não precisava arriscar ser nocauteado para tentar nocautear, ele viveria batendo em seu saco de bater sem arriscar na possibilidade de tomar um cruzado quando tentar acertar um direto. Mas sacos não têm vida!
... Todo homem precisa de outro homem para não morrer, matando! O homem precisa de vida morta outrem para sua vida morta viva! A vida de um homem é a morte de outro!
Não se lembra quando você era espermatozóide para ser você e para ser você outros “vocês” acabaram morrendo!
Como me disse meus Los Hermanos: “quem acha que perder é ser menor na vida? [...] Quem sempre quer vitória perde a glória de chorar”.
Não é pelo desejo louco de vencer que o homem mata, é pela incompreensão da derrota! Um homem tem mil desculpas quando é derrotado. Uma delas é a morte... Ele mata!
A diversão dos jovens: ah... Já tem cara de velório! E a diversão dos ditos maduros... O pop, velho, já tem cara de morte!
Tem mulher que não consegue comprar um jeans de mil reais, se sente fracassada, e corrompe tudo que é valor por um Jens que será jogado no brechó. Guerreira é a grande socorro cobra – uma mulher que sai nas noites de meu interior vendendo ovinhos de codornas e camarões, de bar em bar com duas caixinhas de isopor – eu que tantas vezes tomei cuba livre com os ovinhos da Socorro... Nem sabe ela que é guerreira! Claro, ela nunca se sentiu derrotada por não ter nem uma bicicleta para vender seus ovinhos... Ela vive, vende, ama e não chora o que não se perdeu: agradece a vitoria!
Certo é meu amigo Francisco Flávio, cujo epíteto se chama bicudo – um cara cem por cento alegria, quem não chora miséria, vive fazendo presepada e vive vencendo a derrota. Adoro sua celebre frase quando ele diz assim: “ eu não me preocupo com quem eu devo não, a quem eu devo que se preocupe comigo... porque também não me preocupo com quem me deve”.
Por favor, só não me chore miséria com lágrimas de ouro! Perder não é tão simples assim! Guarde suas lágrimas, quando realmente, for para jogá-las na sarjeta!
Eu adoro babacas que não sabem da quantidade de uma lágrima, e vive choramingando por tudo... Eu vejo e começo a perceber que foram poucas as vezes que perdi!