Um dia das férias
Quase na metade do dia, pouco antes do horário do almoço, ele chegou caminhando lentamente e sentou-se no banco da praça central da cidade. Trazia um jornal em baixo do braço direito. Queria descansar e ao mesmo tempo observar o movimento do comércio, das pessoas, da praça... Fazia muitos anos que ele não tinha um programa como esse. Afinal, trabalhava das seis da manhã às oito da noite e o pouco tempo que sobrava, ele tirava para descansar.
Estava em período de férias do trabalho e seu objetivo era aproveitar ao máximo, cada momento. Pensou também em rever alguns amigos de infância, adolescência e juventude. Em sua cabeça, tudo era festa. Levantou o rosto, olhou calmamente para os lados, abriu o jornal e passou os olhos pelas manchetes, fotos, legendas e chamadas. Não tinha o hábito de ler jornais diariamente. Naquele momento, tudo o que ele desejava era espairecer a mente.
Descontraído, abriu na página de esportes para ver a classificação de cada time. Nesse instante, chegou um senhor vestido de terno, abriu sua Bíblia e começou a fazer a leitura em voz alta, quase aos berros. Impossibilitado de se concentrar, o trabalhador foi obrigado a interromper a leitura. Porém, fingiu que estava lendo. Não queria cometer a deselegância de se levantar e sair naquele momento, mas sentiu-se mal diante de tamanho incômodo. O jeito foi esperar um pouco para depois sair, sem desrespeitar o pregador.
Enquanto fingia que estava lendo, do outro lado, a pregação fervorosa não parava, até que em dado momento, o pregador, aos berros perguntou: - por que, em vez de ler jornal, as pessoas não se preocupam mais em ler a Bíblia? Por que, em vez de ficar sentado na praça, sem fazer nada, não vai à igreja? - Extremamente constrangido, o trabalhador fechou o jornal e colocou-o sobre o banco. Levantou-se e olhou bem para o pregador e o reconheceu. Era uma figura conhecida que freqüentava a mesma igreja em que ele e a família iam todos os domingos.
Em silêncio e de cabeça baixa, o trabalhador saiu. Enquanto caminhava - bem devagar -, em sua cabeça pairavam algumas dúvidas: - A liberdade de culto dá o direito de ele falar dessa forma com as pessoas? Ele tem o direito de falar!!! E as demais pessoas??? Não têm o direito de não querer ouvir??? – Enquanto isso, o pregador permanecia ali, aos berros. Ao lado, um banco vazio. Sobre o banco, um jornal e na igreja, uma família inteira a menos.