O CAMINHO DO TESOURO
 
       Dia de sol, um sol alegre, ameno, um domingo bom de caminhar com a família. Dia assim, todos já sabiam que seria dia de passear todos juntos lá pros lados do Ginásio, bem depois de atravessar a estrada de ferro de Visconde de Rio Branco, cidade usineira de cana de açúcar, na Zona da Mata, em Minas. Uma cidade onde tudo era harmonia, onde cada dia tinha a sua vez. Era dia de ir para este lado a caminhar, caminhar, deixando a cidade pra trás. A estrada era de terra já mastigada pelos carros de boi que transportavam cana colhida, uma estrada lisa, mas coberta com uma camada fina de poeira acumulada, macia de pisar.
          Correndo e pulando, na dianteira, iam duas crianças, o menorzinho sempre ao lado da irmã nos seus cinco a seis anos, inseparáveis. Corriam e pulavam confiantes com a família toda atrás. Para estes dois era dia de felicidade total, de pura alegria.      Na retaguarda vinha o casal, os pais alegres curtindo a família assim reunida, e meio atrás, vinham às filhas mais velhas, já mocinhas trocando seus papos secretos de sonhos e, por último vinha o filho do meio, levado a beça, sempre atento, com o estilingue de prontidão para pegar um passarinho desprevenido. Bela família e todos alegres, naqueles domingos. Lindo este acontecer de um tempo feliz.
          As crianças era eu e meu irmão Gabriel que foi meu companheiro de toda vida de sessenta anos. Mudo a narrativa porque a emoção me abraça e me invade de encantamento e amor, que não termina nunca.
         Olhávamos para trás, a toda hora, confirmando aquele quadro confortador da família vindo à retaguarda passando confiança e amor, protegendo e compartilhando daquela aventura que era aquele caminhar de despreocupação, era uma felicidade.             De vez em quando eu ou meu irmãzinho achávamos uma moeda dourada no meio do pó aos nossos pés. Era uma alegria completa encontrar tesouros na estrada. Era magia. Gritávamos, “Pai, achei mais uma!” E corríamos até ele para entregar o tesouro achado, para ele guardar em seus bolsos. E voltávamos céleres para a posição de antes, com a expectativa, olhos atentos na poeira do chão, de descobrir mais algum tesouro. A toda a hora eu achava mais e mais. Corria gritando, ia e vinha, e o bolso dele ia ficando repleto e levaríamos pra casa todo aquele tesouro encontrado! Que felicidade!
         Nunca percebemos que eram as mesmas moedas que voavam à frente de nós.