O decote da Anelisa

Quando chego à faculdade, a primeira pessoa que quero ver é sempre a Anelisa. Aquele sorriso contido, aquele olhar meigo, aquela ruguinha na testa quando sorri. Ela é quase irresistível.

Durante as aulas procuro prestar atenção nas explicações das professoras, tento compreender cada teoria, internalizar os principais conceitos e ainda anotar no caderno observações importantes, pra não confiar na memória. Para memorizar, faço mentalmente um resumo do assunto discutido e pra não esquecer anoto as palavras chaves que servirão para trazer o assunto de volta a memória. O problema é que nesse processo, volta e meia eu me desconcentro.

É que quando levanto os olhos, o que vejo?

O decote da Anelisa.

Outro dia fiz uma descoberta incrível, sabe aquele sorriso contido da Anelisa? Descobri que o seu sorriso é assim todo contido por causa do aparelho que ela tem nos dentes. É um aparelho lindo, fininho, branco e dourado combinando com a cor dos seus cabelos. Engraçado, eu nunca beijei uma boca assim, com um aparelho nos dentes.

Meu Deus, só de pensar eu tremo.

Mas o que eu não consigo mesmo esquecer são as curvas no seu decote. Não tem jeito. Parece que há ali, escondida naquela suave depressão, alguma magia que me atrai e prende. Parece que os meus olhos têm vida própria, quando me dou conta estão lá parados espreitando. É como se o decote da Anelisa fosse um ímã.

Meu Deus, outro dia ela chegou, veio cumprimentando todo mundo. Abraços, beijinhos e chamegos. Quando chegou perto de mim, não resisti.

- Quero o meu beijo também. Pedi.

E ela se aproximou, afagou meus cabelos, puxou-me para baixo, ficou na pontinha dos pés para me dar o beijo na minha cabeça.

Ai Anelisa, que susto! Nunca estive tão perto do seu decote.

Aquela noite quase eu não consegui estudar. A professora falava, falava, mas eu só via o seu decote.

Que será que está acontecendo comigo?

Quando fecho os meus olhos vejo o seu decote.

Ai Anelisa, desse jeito não vai dá.