Regaços Verdes

As praças, os parques e os jardins são contrastes aos cogumelos de poluição, que envolvem as grandes cidades. Funcionam como expositores de parte da natureza aos habitantes das tão discutidas selvas de espigões. São refúgios do desconforto urbano, onde homens tentam sobrepor suas necessidades básicas aos "caprichos" e a "tirania" da máquina.

Sem dúvida alguma, para os que se exilaram das pequenas cidades e para todos aqueles que nasceram e vivem nas grandes metrópoles, as praças os parques e os jardins funcionam como regaços verdes dos homens. As praças, os parques e os jardins das grandes cidades funcionam como templos onde se realizam os rituais para o "religar" com a Natureza.

Nas pequenas cidades, onde a presença da natureza é uma constante, esses regaços têm como função maior promover o convívio social. Para frisar sua importância, basta lembrar que, apesar do grande número de propriedades rurais e de áreas verdes que cercam as pequenas cidades, existe o interesse de todo e qualquer prefeito em deixar seu nome gravado numa placa de inauguração de uma praça.

São nas praças, parques ou jardins que mãos maternas expõem os bebês aos primeiros raios de sol e as paternas, aos primeiros riscos das gangorras, dos balanços e dos "trepa-trepa".

Neles, as crianças são mais crianças. É onde os adolescentes roubam beijos e se iniciam em carícias acrobáticas de amor.

É onde os adultos redescobrem a pureza e a espontaneidade de quando foram crianças e que foram esquecidas.

É neles que os velhos brincam com a sua solidão.

São fontes permanentes de lazer e prazer.

O coro de pássaros, o solo do bem-te-vi, o sussurro das copas das árvores, o ranger do bambu sob a ação do vento, o burburinho das águas das fontes, a algazarra de crianças e cigarras, os gritos vibrantes por um lance, gol ou vitória, tudo se mistura anarquicamente, executando a sinfonia das praças, dos parques e dos jardins.

O vermelho, o lilás e a purpurina da aurora ou do crepúsculo, todas as cores na brancura da garça, o negro aveludado do anum, o prateado do luar, o multicolorido das flores no fundo verde das ramagens e a dança das cores das camisetas em torno do branco da bola, tudo se mistura formando um imenso painel.

A indiferença da garça sobre uma vitória-régia, a graciosidade de um esquilo roendo, a altivez da palmeira, a delicadeza das orquídeas, o exotismo das bromélias, a imponência da sumaumeira, a graça do saltitar de um passarinho ou do andar de um bebê, a ternura no olhar de um vovô ou a sensualidade de uma mulher que passa, são emoções provocadas aos que assistem o grande "show" promovido por praças, parques e jardins.

O doce perfume das florações, o cheiro rural das podas de grama e o bolinar do vento são as artimanhas da sedução desses regaços verdes.

São nas praças, parques e jardins que a Mãe Natureza exibe suas dádivas nas áreas urbanas. O faz sem pudor e preconceitos.

“Refúgio Urbano" são rimas de aplausos a esse espetáculo proporcionado por praças parques e jardins. São rimas de agradecimento à Mãe Natureza por doar aos homens a sinfonia, o imenso painel de cores, o mosaico de formas e o doce perfume das florações, nos dias em que sol e vento fazem a festa nos regaços verdes, refúgio das grandes cidades.

Refúgio Urbano

Praça, parque ou jardim

onde:o burburinho vira coro;

homens são levados pela criança;

mãos e cavaquinho fazem o choro;

raios de luz derramam a esperança.

Praça, parque ou jardim,

onde:o “pega” é de inseto e passarinho;

sol e vento fazem a festa;

ele chega mais juntinho;

flores pintam a primavera;

Praça, parque ou jardim,

onde a anarquia faz a ordem;

alguém foge da “justa” ou do ladrão;

o beija-flor se equilibra no pólen;

as cigarras cantam o verão;

Praça, parque ou jardim,

onde:a bola deita e rola;

a banda nos vê passar;

a conversa é jogada fora;

o crepúsculo anuncia o luar.

Praça, parque ou jardim,

refúgio da cordilheira de concreto,

onde homens escalam dúvidas e solidão;

refúgio de negros rios de asfalto,

onde naves içam velas de poluição.

Praça, parque ou jardim,

Praça, parque ou jardim.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 09/12/2008
Reeditado em 29/06/2021
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