FINALMENTE AS FÉRIAS?



           Chegaram as férias. Sim, chegaram. Não deu nem para perceber, o tempo passou, as estações se sucederam e ninguém notou; o ano voou pelos noticiários de TV e mal passou pela vida verdadeira.

          Porém, sem que o calendário fosse alterado apenas porque alguém faz reflexões insólitas, as férias chegaram... Chegou o momento em que os pais, que dividiram seus filhos o ano inteiro com escola, professores, cursos de natação, línguas, judô, balé, aniversários de amiguinhos, e as mais diversas atividades e exigências para a formação dos futuros cidadãos do mundo moderno, terão os seus filhos apenas para si, (full time)... tempo integral com seus próprios rebentos!

           E então, o que fazer? Planejar em primeiro lugar, dizem os preparados e precavidos. Não é difícil imaginar por quê. Crianças que passaram meses e meses em atividade alucinante, terão dificuldade em desacelerar... e crianças aceleradas em casa, são um problema! Café da manhã, almoço, lanche, jantar, lanche, ir buscar amiguinhos, receber amiguinhos, ir levar amiguinhos, ir levar na casa dos amiguinhos, ir buscar na casa dos amiguinhos... Que trabalheira! Nem pensar; melhor viajar. Praia ou campo? Talvez a primeira pergunta seja essa. O problema é não saber como vai estar o tempo: praia com chuva é um desastre; campo é um desastre no calor, com ou sem chuva; insetos demais, crianças meladas e manhosas...

           Com sorte praia; as crianças preferem, a maioria prefere. Hora de fazer as malas. Roupas para calor e para frio (nunca se sabe); brinquedos prediletos, alimentos essenciais, bichinhos de estimação e...bicicletas. Quando cruzo nas estradas com tantos carros carregando bicicletas, sempre me ocorre a pergunta: por que será que não há um grande estoque de bicicletas à disposição nos locais onde as pessoas passam férias; deveria haver e de graça, já que os turistas deixarão no município os seus trocados... Mas não há; é preciso carregá-las atreladas aos carros, sobrecarregados. Sorte de quem vai ficar numa casa; geralmente é um pouco mais fácil. Pobre de quem terá de levar tudo para o apartamento: tirar do carro, colocar no carrinho, subir pelo elevador de serviço, já suando por causa do calor e da maresia; repetir a operação algumas vezes.
É preciso lidar com as crianças as impacientes, enquanto tudo é ajeitado. De minha parte, aprendi que é sempre preferível chegar à noite, as crianças já com sono não ficarão insistindo para ir à praia!

           Ir à praia é uma delícia! Mas não é fácil. Há um tempo de preparação, com a cerimônia de passar o protetor, lembrar de levar tudo que é necessário e geralmente fazer uma caminhada, carregando de geladeiras de isopor a cadeiras. Falo por mim, classe média. Tudo na praia é muito caro. Passar ali, digamos uns quinze dias com duas crianças, pagando tudo, fazendo as refeições em restaurantes... desequilibra o orçamento, com certeza. Eu havia esquecido, é preciso pensar nas refeições. Bom é prepara-las à noite, enquanto as crianças dormem; impensável tal bravura ao chegar da praia... essa é a hora do banho e das choradeiras por causa da fome.

           Uma outra questão é: passar as férias na praia não é ficar o dia todo na praia. Hoje há consciência dos horários apropriados. À tarde, então, o que fazer? Bem, sair para passear; ir ao parque de diversões, tomar sorvete, quem sabe um cinema, e, para consolar e aliviar o stress das mamães, e privar de um ambiente com ar condicionado,  ir ao shopping, que hoje os há em qualquer lugar. Mas, a esta altura, não deixa de me ocorrer a pergunta: -Se afinal tudo acaba em shopping, por que ter tanto trabalho?