Elis Regina e o final de um domingo em que andei desencontrado
A gestação deste texto iniciou ontem à noite quando liguei o DVD para assistir Elis Regina, MPB Especial. Me pareceu oportuno àquela hora rever a entrevista e as interpretações antológicas da cantora. De fato, maravilhei-me com as músicas, no entanto, o que me ficava a cada declaração dela era uma tremenda sensação de inadequação. Um travo amargo na boca.
Ela ali, tão autêntica, tão verdadeira com seu gestual nervoso e seu incessante mexer de dedos. E eu tão cretinamente perdido de mim mesmo. É que eu passei o dia entre supostos amigos, me falseando o suficiente para sorrir diante das lembranças deles de farras passadas das quais sequer participei. Foram festas que prometem retornar num futuro próximo. Participarei delas agora? Não sei.
Havia um abismo a ser transposto no tempo antigo. Ele que me impedia de ir aos lugares de festas. Na verdade, eram dois abismos: um etário (estou hoje com 22 anos e eles com quase ou mais de 30) e outro comportamental (eles ultraextrovertidos e eu cada vez mais e sempre entretido comigo mesmo. Eles beberrões; eu abstêmio...)
Talvez perguntem por que, então, eu compareci ontem. Foi porque o fato de me chamarem para ir lá foi uma tentativa de saltarmos tais abismos. Pelo visto tentativa não muito bem sucedida.
É como se a intenção e os preparativos fossem bons demais e prenunciassem um salto perfeito que, apesar de tudo, foi falhado. Acredito que ninguém se perdeu no "canyon"; estamos todos agarrados pelas bordas.