A Beleza das Coisas
A beleza das coisas carrega consigo uma certa tristeza que determina a grandeza de tal beleza. Isso se aplica a beleza verdadeira, não aquela plastificada, artificial, comercial, que cansa a vista.
A beleza que mais me encanta está em extinção, é a beleza além dos olhos, dos risos, é a beleza profunda. Não estou falando da beleza interior que todos falam, essa se traduz em humanindade e amor. Qual ser humano cheio de amor e humanidade não se torna belo, agradavél, desejado, querido? Falo da beleza de alma que tem cheiro de recém-nascido; que é pura, inocente, imaculada.
Em extinção mas não totalmente extinta, o Tatuzinho de Jardim a encontra sempre que ainda se abre para olhar estrelas. No entanto encontrou inusitadamente naquele mesmo casebre entre a Álvaro Ribeiro e a Angelo Simões. Essa beleza rara se expalha em 1,55m de altura, olhos verdes em musgo profundo que remetem a copa das árvores, quase extintas nas ruas. Seu nome é Luiza no auge dos seu 83 anos. Naquela manhã em que o Tatuzinho procurava estrelas, era ela uma das personagens no jardim. Me confessou também as estrelas procurar, adorando a sensação de vida de as ter mão num dia de sol.
Dessa vez meus olhos não estavam pregados ao sol, mas presos ao chão. Procurando. Enquanto voltava o percurso andando, em busca da tarrachinha do meu brinco que deveria ter caído por ali; quando antes passei correndo atrás do cachorro que tinha escapado de dentro do carro. Meus olhos ajustados para encontrar algo pequeno entre a calçada e os buracos, encontraram uma linda pantufa verde limão, atrás das grades cinzas do portão. Era a simpática Luiza, que me concedeu o prazer de cinco minutos de conversa antes que a enfermera lhe chamasse para o café da tarde.
O casebre é um asilo, Luiza uma bisavó sem familia, mas ainda assim em todo tempo sorria, seus olhos e movimentos demostravam a pureza transparente de uma alma. E me peguei pensando o quanto a minha fora pura ao nascer, agora tão suja vivendo nesse mundo jogando esse jogo sobreviver. Naquele momento o tempo se resumiu em um refil purificador, passamos por tantas, e vemos tantas, e choramos tantas e no fim a beleza da alma ainda sobrevive. O abondono e a tristeza não mataram a beleza de Luiza. Me prometi continuar buscando estrelas, cultivar mais pureza pra encher a vida de vida e verdadeira beleza.