Silêncio
Já devia passar da uma da manhã e o sono ainda não havia dado o ar da graça.
Júlia sempre acreditara que tudo que fazia na vida refletia de volta para ela de alguma forma. Acabou pensando em tudo o que havia passado durante o dia, a semana... Pensou em todas as gargalhadas dadas e lágrimas perdidas.
Suspiro.
Silêncio.
Silêncio que inundava o quarto escuro e que era rasgado somente pela fresta de luz que vinha da fechadura da porta, e iluminava seu olho esquerdo. Sentia o arrepio estranho de estar sozinha e um vento frio a induzia a puxar as cobertas. De repente começou a refletir mais sobre si mesma: resolveu que no dia seguinte começaria uma dieta, pararia de fumar, não beberia mais e seria gentil e educada com todos a sua volta. Seus pensamentos pareciam ecoar nas paredes e rodopiar pela janela afora. Virou para o outro lado.
E mais uma noite sem sono, pensando e refletindo, sentindo-se miserável e tendo autopiedade ao mesmo tempo em que tinha raiva de fazê-lo. Antes mesmo de começar, já sabia que não cumpriria a tal dieta, que fumaria sempre que desse vontade, beberia sempre que a agradasse e continuaria sendo ríspida com qualquer um que discordasse.
Sabia também, que promessas feitas a si mesma nunca seriam cumpridas. Bem, talvez por um ou dois dias, mas de fato, nunca seriam cumpridas, pois sabia que faltava algo em sua vida.
Sentimento? Talvez...
Silêncio.
Silêncio.
Soluço.
Talvez fosse a mania de fazer-se forte e chorar só em baixo do chuveiro ou com a cabeça no travesseiro.