Confissões no chuveiro
No banho, relembrei coisas que achei ter esquecido ou pensava ter ignorado. Talvez hoje, esse véu tivesse sido retirado da frente de meus olhos pelo simples fato de não ter tomado meu antidepressivo.
Pensando no quanto minha vida poderia ser miserável, como quando tentava fazer algo para agradar e sempre acabava com as frustrações dos outros descarregadas em hematomas na pele (que descobri enquanto me olhava no espelho) e sem estar naquele feriado sem algum homem que me amasse, as lágrimas de repente brotaram de meus olhos. Eu já sabia que não estava muito bem ao longo do dia, já havia vomitado, mas mesmo assim ainda não havia passado aquela vontade de me enterrar bem fundo em algum lugar e sumir por algumas horas. Passei o dia pedindo que o mundo me esquecesse, e me acontece justamente o contrário.
Com a água escorrendo pelo corpo, se misturando às lágrimas e encarando meu rosto inchado e vermelho no espelho, começo a sentir pena de mim mesma ali, naquela cena deprimente. E quanto mais pensava nisso e me encarava, mais as minhas lágrimas me lavavam, em vez das gotas que caíam do chuveiro.
Desliguei-o.
Tentei tampar minha boca e meu nariz com a toalha, e me encarar mais de perto no espelho. Tentei descobrir realmente porque estava chorando. Incriminei-os, pressionei-os, até me dizerem por que estavam tão aflitos e inchados. Assustei-os, e eles sussurraram uma lágrima. Tímida, a lágrima rolou pela minha face.
Foi quando um grito me despertou:
- Júlia! Você tá viva?
Era minha mãe intrigada com minha demora no chuveiro. E disfarcei a voz mareada:
- Tô!
Mas naquele momento, desejaria não ter dito nada.