para não dizer que fiquei o dia todo atôa

O dia começa. A multidão passa pela praça num trotar constante e monótono. Os automóveis se enfileiram um atrás do outro numa imponência morosa e colorida. As motocicletas zoam como moscas que não sabem aonde vão, correndo para ficarem paradas no sinal.

As crianças brincam no chafariz se livrando da poeira que vem da obra que o sol ilumina com a voracidade impiedosa de um Zeus.

O executivo na BMW, a Patricinha e o seu batom, o trabalhador e a sua marmita, o ladrão e o seu estilete, todos estão armados para a hora do almoço, para depois vir a tarde com a hora do café.

Notícias do Big Brother e o assalto com vítima fatal, é preciso ter pressa para saber das notícias que todos sabem vão acontecer, só não se sabe ainda aonde e nem com quem, e o dia acaba. A noite vem no tropeçar do bêbado. Nada parece mudar. A não ser que caía do céu no meio da praça um cometa fumegante cumprindo a profecia do pregador suarento de bíblia na mão, mas isso não combina com essa crônica. Não seria muito coerente com o realismo versão pós-moderno que eu deveria seguir. Mas aí eu lhe pergunto: entre o dia que começa e acaba nessa praça, o que realmente é real?