"Computador, arrghhhh..."

De repente, não mais que de repente, senti-me realmente enjoado, até mesmo um tanto quanto enojado, de computador, Internet, teclado, mouse, trabalho, etc. Levantei-me da cadeira, fui até a área de serviço, peguei minha bicicleta e saí rumo à praia levando os apetrechos de pesca. Isso em plena quinta-feira, nove e meia da manhã.

Saí pedalando sem pressa, curtindo a paisagem, observando as pessoas, reparando na criançada brincando nas pracinhas do calçadão, os velhinhos e velhinhas curtindo o sol ou exercitando-se em um andador, as simpáticas boazudas dando o ar da graça e graça ao ar, o colorido da vida santista exposto no que é considerado o maior jardim litorâneo do mundo, que é o nosso.

Na Ponta da Praia, dando banho em pedaços de camarão, pude pensar tranquilamente na vida. E pensando tranquilamente cheguei à conclusão de que, sem querer, estava, aos poucos, voltando a fazer tudo que fazia em São Paulo: trabalho, trabalho, trabalho e, pra variar, um quase nada de lazer. Em quase quinze meses morando em Santos foi ontem a primeira vez que saí para pescar. Coisa que eu queria ter feito desde que aqui cheguei.

Organizar um sebo, seja físico ou virtual, não é moleza. Tem que saber organizar, saber o que comprar, comprar, descrever a contento, fotografar os livros, inseri-los no site, vender, embalar, enviar, fazer o pós-venda, controlar o estoque, elaborar propagandas para os sites de anúncios, enfim, todos os procedimentos de qualquer comércio que pretenda crescer e permanecer ativo.

Além do sebo, tenho uma outra atividade, também virtual, não menos trabalhosa.

Exercendo as duas atividades, sempre encontro um tempo para escrever e publicar. São mais de 1.000 artigos no Recanto e vários outros em outros sites. Dizem, não sem razão, que só não encontra tempo o desocupado.

Em resumo: tenho ligado meu computador às oito da manhã e desligado mais ou menos à meia-noite. Uma média de dezesseis horas por dia, das quais pelo menos durante umas treze, vejo o monitor à minha frente e o teclado sob meus dedos.

Tanta atividade não impede que ouça perguntas como a que me fez um dos empregados do prédio, pelo qual, aliás, não nutro qualquer simpatia:

- O senhor trabalha também ou fica só no computador?

Tive que responder com outra pergunta:

- E você? Trabalha também ou só cuida da vida alheia?

É como eu disse à minha esposa diversas vezes: se eu saísse de manhã cedo de casa, pegasse o carro, dirigisse até um local qualquer, entrasse no emprego, pendurasse o paletó na cadeira e saísse por aí a vagabundear, seria considerado um exemplo de trabalhador. Desde que, é claro, não fosse despedido e tivesse algumas promoções no decorrer da brilhante carreira de funcionário fantasma. Tipo de funcionário que, aliás, existe em tão grande número que fico admirado de ainda não terem fundado um sindicato da categoria.

Peixe eu não trouxe nenhum, mas em compensação voltei até com certa saudade de meu micro, com uma fome de cão, e decidido a de vez em quando jogar tudo pra cima e me lembrar mais vezes que há vida a ser vivida fora de meu escritório. E do meu quarto, claro...

Ps: Tenho muita pena quando ouço um coroa da minha idade dizendo:

"Computador? Graças a Deus eu não sei nem ligar esse troço. Deixo pra meninada cuidar disso...". O pior é que geralmente o cara fala isso com cara de quem fez uma bela conquista. Trouxa...

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 06/12/2008
Reeditado em 07/12/2008
Código do texto: T1321163
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