(imagem: Guernica - Pablo Picasso)
(Música: Sinfonia 5 - Beethoven)
Estão cortando os pés para economizar calçado
Há poucos dias atrás conversei sobre a atual crise econômica com um velho amigo, um senhor de oitenta e cinco anos de origem estrangeira que vive no Brasil há vários anos, um sábio, um cidadão do mundo que me disse: “estão cortando os pés para economizar calçado”. Bem reconhece o velho senhor que os pés, que apesar de suas condições rasteiras, servem para dar sustentação ao corpo.
Na natureza uma árvore não cresce mais do que o normal para a sua espécie, aliás, na natureza tudo é auto-regulável. O homem, a expressão pensante da natureza, não segue os princípios da auto-regulação. Adam Smith, o pai do liberalismo econômico, dizia que as riquezas das nações resultam das atuações de indivíduos, que movidos por interesses próprios o (self-interests), tendo como conseqüência o desenvolvimento econômico e tecnológico. O interesse próprio e individual de Adam Smith em pouco mais de um século e meio transformou-se em interesse de grupos, e os grupos têm como consenso crescimento a qualquer custo.
Nada cresce a qualquer custo, e quando cresce demais se cai para auto-regular. Qualquer crescimento tem limites, assim é com tudo na natureza e não poderia ser diferente na economia. A natureza não é gananciosa, o homem como ser pensante da natureza é possuidor de uma ganância sem fim, por isso, ele constrói armadilhas e as presas são sempre os mais fracos.
Demissões, férias coletivas e fechamento de unidades produtivas aparecem como soluções milagrosas para se safar da crise econômica. Isso é a solução para salvar o grupo, não a coletividade como um tudo. Faz parte de um espírito tacanho que quer o crescimento a qualquer custo de um pequeno segmento, não o bem estar de todos. Quando se demite, o demitido deixa de produzir, deixa de consumir, isso acarreta menos produção, menos consumos, e como conseqüência, menos dinheiro circulando e mais pobreza.
Num momento de crise teria que investir e não demitir o elemento pensante da natureza. Quando se deixa de investir no homem está colaborando com a involução humana. As crises são lições para aqueles que têm sensibilidade e que querem aprender. Investir no homem, em vez de descartá-lo, seria a forma de sair da crise de maneira humana e honrosa. Para salvar a cabeça sacrifica-se de maneira impiedosa o corpo, e, quando precisar do corpo para produzir, ele não estará apto.
O maior sacrificado na crise é sempre o trabalhador. Há tempos atrás se dizia que a solução para esse problema seria o trabalhador assumir o poder, isso, nem sempre deu certo, não que o trabalhador não tenha competência para o poder. A revolução Russa e tantos outros governos operários ou de origem operaria erraram tanto quanto os ricos magnatas do poder. O erro não está na classe de quem ocupa o poder, o erro está na excessiva vaidade humana. O homem vaidoso não é um homem evoluído. O vaidoso quer o crescimento e o desenvolvimento a qualquer custo, enquanto o evoluído procura estabelecer o equilíbrio.