A sogra no sermão
e no Evangelho
1. Li os jornais que me chegaram, hoje cedo, às mãos, e nada. Recorri ao rádio e à televisão, e nada. Somente um assunto dominava os jornais, os jornais falados e os tele-jornais: a tragédia de Santa Catarina.
Pensei: escrever o que sobre esse terrível acontecimento? Por enquanto, satisfaço-me em dizer que não perdoo os deuses da chuva. Não aceito o que eles andam aprontando naquele simpático Estado sulino. Alô, divindades, isso não se faz...
2. E sobre o Nordeste? Sobre o Nordeste, nada! Me preocupa a situação dos queridos nordestinos, eu, um deles. É injusto o que os "deuses da seca" (deuses?) vêm fazendo, mais uma vez, com os valorosos filhos daquele pedaço do Brasil.
Por causa da prolongada estiagem há gente e bicho morrendo de fome e sede. Não chove no chamado polígono da seca. E o meu Estado, o Ceará, e a Bahia fazem parte dele. Ajude-se Santa Catarina. Mas não deixem as autoridades de socorrer os flagelados nordestinos, no momento, vítimas de uma seca feroz.
***
1.Neste pra lá e pra cá; lendo isso e lendo aquilo, eu buscava um assunto para minha crônica diária. Foi então que me veio à lembrança que estamos atravessando o tempo do Advento.
Mais algumas semanas e estaremos abocanhando o peru natalino; e comemorando, com vinhos, luzes e sons, o nascimento do Bambino, assim São Francisco de Assis chamava o Deus Menino.
2. Cheguei, então, à conclusão de que abordar qualquer tema religioso, ou assemelhado, quebraria meu galho. Comecei a folhear os livros sobre Religiões que dão substância e grandeza às minhas modestas estantes de cronista menor.
Passei a ler biografias de santos; a vida de beatos; histórias de papas; e a vida de Jesus escrita por dois grandes mestres: Ernest Renan e Plínio Salgado. Sem deixar de lado, claro, os Evangelhos sinóticos.
3. Em meio à pesquisa, sofri um daqueles estalos que, vez em quando, socorrem os escribas momentaneamente desesperados, procurando sobre o que escrever.
Ah! o padre Antônio Vieira!
Não perdi tempo. Revi o pouco do que lera sobre o magnífico pregador jesuíta.
Mais rápido do que eu podia imaginar, encontrei no sábio sacerdote um tema que me tirou do sufoco: a sogra na visão do ilustre sermonista.
Deixo bem claro, que, apesar do que se diz delas, tenho pelas sogras o maior respeito e afeição. Chego até a esquecer depoimentos de amigos e familiares, segundo os quais, existem sogras, de fato, nada palatáveis...
4. Mas, o que me parece certo é que este alegado "mal-estar" provocado por nossas queridas sogras já existia desde o tempo dos apóstolos.
Lucas, por exemplo, narra que a sogra de Pedro sofria de uma enfermidade que a dilacerava. E que, nem por isso, o líder dos apóstolos providenciou a cura da mãe de sua mulher.
Isso me levou a fazer este indagação: se Pedro, passando pelas ruas, sarava os enfermos, pessoas estranhas, bastando só que os tocasse com a sua sombra, por que não curava a enferma que tinha dentro de casa, sua parenta tão próxima?
E aqui entra Vieira, com esta (desconsertante?) observação: "Uma sogra talvez é melhor está doente, que sã: porque doente a mesma doença a tem quieta a um canto da casa, e sã, rara é a que se não contente com menos que com todos os quatro cantos dela."
5. É evidente que não estou aqui para acirrar ou alimentar as briguinhas (históricas?) que por acaso possam existir entre sogras, genros e noras. E muito menos a querer justificá-las, recordando o texto bíblico envolvendo Simão Pedro e sua sogra e a observação sobre elas feita pelo padre Vieira.
Queria só mostrar que essa história de sogra megera, sogra indesejada, etc., etc., não é invenção dos tempos modernos, como, no primeiro momento, podia parecer. Vem de longe... Esqueçam o que disse São Lucas e o Padre Vieira, e dê um abraço na sua sogra, dileto leitor. Afinal, o tempo do Advento é um tempo de reconsiliação e também de perdão.
e no Evangelho
1. Li os jornais que me chegaram, hoje cedo, às mãos, e nada. Recorri ao rádio e à televisão, e nada. Somente um assunto dominava os jornais, os jornais falados e os tele-jornais: a tragédia de Santa Catarina.
Pensei: escrever o que sobre esse terrível acontecimento? Por enquanto, satisfaço-me em dizer que não perdoo os deuses da chuva. Não aceito o que eles andam aprontando naquele simpático Estado sulino. Alô, divindades, isso não se faz...
2. E sobre o Nordeste? Sobre o Nordeste, nada! Me preocupa a situação dos queridos nordestinos, eu, um deles. É injusto o que os "deuses da seca" (deuses?) vêm fazendo, mais uma vez, com os valorosos filhos daquele pedaço do Brasil.
Por causa da prolongada estiagem há gente e bicho morrendo de fome e sede. Não chove no chamado polígono da seca. E o meu Estado, o Ceará, e a Bahia fazem parte dele. Ajude-se Santa Catarina. Mas não deixem as autoridades de socorrer os flagelados nordestinos, no momento, vítimas de uma seca feroz.
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1.Neste pra lá e pra cá; lendo isso e lendo aquilo, eu buscava um assunto para minha crônica diária. Foi então que me veio à lembrança que estamos atravessando o tempo do Advento.
Mais algumas semanas e estaremos abocanhando o peru natalino; e comemorando, com vinhos, luzes e sons, o nascimento do Bambino, assim São Francisco de Assis chamava o Deus Menino.
2. Cheguei, então, à conclusão de que abordar qualquer tema religioso, ou assemelhado, quebraria meu galho. Comecei a folhear os livros sobre Religiões que dão substância e grandeza às minhas modestas estantes de cronista menor.
Passei a ler biografias de santos; a vida de beatos; histórias de papas; e a vida de Jesus escrita por dois grandes mestres: Ernest Renan e Plínio Salgado. Sem deixar de lado, claro, os Evangelhos sinóticos.
3. Em meio à pesquisa, sofri um daqueles estalos que, vez em quando, socorrem os escribas momentaneamente desesperados, procurando sobre o que escrever.
Ah! o padre Antônio Vieira!
Não perdi tempo. Revi o pouco do que lera sobre o magnífico pregador jesuíta.
Mais rápido do que eu podia imaginar, encontrei no sábio sacerdote um tema que me tirou do sufoco: a sogra na visão do ilustre sermonista.
Deixo bem claro, que, apesar do que se diz delas, tenho pelas sogras o maior respeito e afeição. Chego até a esquecer depoimentos de amigos e familiares, segundo os quais, existem sogras, de fato, nada palatáveis...
4. Mas, o que me parece certo é que este alegado "mal-estar" provocado por nossas queridas sogras já existia desde o tempo dos apóstolos.
Lucas, por exemplo, narra que a sogra de Pedro sofria de uma enfermidade que a dilacerava. E que, nem por isso, o líder dos apóstolos providenciou a cura da mãe de sua mulher.
Isso me levou a fazer este indagação: se Pedro, passando pelas ruas, sarava os enfermos, pessoas estranhas, bastando só que os tocasse com a sua sombra, por que não curava a enferma que tinha dentro de casa, sua parenta tão próxima?
E aqui entra Vieira, com esta (desconsertante?) observação: "Uma sogra talvez é melhor está doente, que sã: porque doente a mesma doença a tem quieta a um canto da casa, e sã, rara é a que se não contente com menos que com todos os quatro cantos dela."
5. É evidente que não estou aqui para acirrar ou alimentar as briguinhas (históricas?) que por acaso possam existir entre sogras, genros e noras. E muito menos a querer justificá-las, recordando o texto bíblico envolvendo Simão Pedro e sua sogra e a observação sobre elas feita pelo padre Vieira.
Queria só mostrar que essa história de sogra megera, sogra indesejada, etc., etc., não é invenção dos tempos modernos, como, no primeiro momento, podia parecer. Vem de longe... Esqueçam o que disse São Lucas e o Padre Vieira, e dê um abraço na sua sogra, dileto leitor. Afinal, o tempo do Advento é um tempo de reconsiliação e também de perdão.