Um passarim
franciscano
1. Querem saber de uma coisa? Gosto muito de passarins. Quando eu era jovem, criei canoros pintassilgos, sabiás legítimos, curiós fogosos, canários da terra, canários belgas, graúnas, e majestosos galos de campina, os nossos coloridos cardeais.
2. Fazia tudo para que meus passarinhos não se sentissem em cativeiro. Hospedava-os em ótimas gaiolas, e lhes dava o melhor alpiste.
3. Mostrando-se satisfeitos, eles alegravam meus dias, com prolongados gorjeios. Quando todos cantavam ao mesmo tempo, eu tinha em minha casa uma orquestra maravilhosa.
4. Meu último sabiá não escolhia hora para chilrear. Surpreendia-me, na alta madrugada, com seu canto estridente e triste. Um lamento? Eu o acariciava, chamando-o de seresteiro.
5. Uma manhã, quando lhe oferecia pedaços de uma manga doce, esqueci de fechar a gaiola, e ele fugiu. Oh! Quase morri...
6. Mas o que eu quero dizer é que, com toda esta intimidade com os passarinhos, eu ainda não conheço a cotovia. Sei que ele é um pássaro marrom com um topete semelhante a um capuz franciscano.
7. Diz a lenda, que São Francisco de Assis, meu amigo e protetor, não escondia seu amor pelas cotovias. Gostava de ouvi-las quando, ao cair da tarde, elas vinham pousar nos beirais da igrejinha da Porciúncula, que conheci, quando visitei Assis, a linda terra do Poverello.
8. Companheiros de hábito do santo seráfico, descrevendo-lhe os últimos momentos de vida, revelaram que "muitos pássaros, chamados cotovias, esvoaçavam por sobre o teto da cabana onde ele jazia, fazendo círculos e cantando".
9. Não perco a esperança de conhecer este passarim franciscano.
Qualquer dia desses haverei de flagrá-lo cantando nos galhos de um pau-d´arco; ou fazendo um ninho na torre de uma igrejinha sertaneja.
10. Se isso não acontecer, o passarinheiro, autor desta simplória crônica franciscana - podem acreditar - morrerá frustrado...
franciscano
1. Querem saber de uma coisa? Gosto muito de passarins. Quando eu era jovem, criei canoros pintassilgos, sabiás legítimos, curiós fogosos, canários da terra, canários belgas, graúnas, e majestosos galos de campina, os nossos coloridos cardeais.
2. Fazia tudo para que meus passarinhos não se sentissem em cativeiro. Hospedava-os em ótimas gaiolas, e lhes dava o melhor alpiste.
3. Mostrando-se satisfeitos, eles alegravam meus dias, com prolongados gorjeios. Quando todos cantavam ao mesmo tempo, eu tinha em minha casa uma orquestra maravilhosa.
4. Meu último sabiá não escolhia hora para chilrear. Surpreendia-me, na alta madrugada, com seu canto estridente e triste. Um lamento? Eu o acariciava, chamando-o de seresteiro.
5. Uma manhã, quando lhe oferecia pedaços de uma manga doce, esqueci de fechar a gaiola, e ele fugiu. Oh! Quase morri...
6. Mas o que eu quero dizer é que, com toda esta intimidade com os passarinhos, eu ainda não conheço a cotovia. Sei que ele é um pássaro marrom com um topete semelhante a um capuz franciscano.
7. Diz a lenda, que São Francisco de Assis, meu amigo e protetor, não escondia seu amor pelas cotovias. Gostava de ouvi-las quando, ao cair da tarde, elas vinham pousar nos beirais da igrejinha da Porciúncula, que conheci, quando visitei Assis, a linda terra do Poverello.
8. Companheiros de hábito do santo seráfico, descrevendo-lhe os últimos momentos de vida, revelaram que "muitos pássaros, chamados cotovias, esvoaçavam por sobre o teto da cabana onde ele jazia, fazendo círculos e cantando".
9. Não perco a esperança de conhecer este passarim franciscano.
Qualquer dia desses haverei de flagrá-lo cantando nos galhos de um pau-d´arco; ou fazendo um ninho na torre de uma igrejinha sertaneja.
10. Se isso não acontecer, o passarinheiro, autor desta simplória crônica franciscana - podem acreditar - morrerá frustrado...