ALIANÇAS QUE APRISIONAM
Passo dado sem avaliar as possíveis consequências
Escrever. Imperativo que me domina agora. Não teci palavras esta semana. Houve tentativas que não passaram de equívocos. Não foi a primeira vez que cometi enganos. Aqui pode até ser mais um. O fato é que extirpo pensamentos sem deixar de pensar na bela amiga. Que desgosta de abstrações. Mas admira como consigo prosseguir na construção de palavras. É para ela este texto. Sem deixar de dizer que ela não é diferente de outras “elas”...
O fato é que desejo emocionar. Quiça, brotar lágrimas nos olhos de muitas mulheres com a leitura das palavras que aqui eu deito. Porque a realidade que vou tratar não é tão diferente de muitas outras. Certamente que agora a atenção feminina para a tela do computador é maior. Já há apreensão. Calma! Vocês podem se decepcionar. É possível que eu tenha me enganado. Pode até ser tudo isto dito de forma não interessante. E aí no lugar de lágrimas o que se terá serão suspiros com deboche.
Alianças. A prisão para sempre. No amor e na doença. Pena que não se pensaram nas doenças da alma. Essas é que contribuem para a desconstrução das promessas. Como pode alguém jurar amor eterno? Como prever nossos sentimentos? O que podemos é desejar que eles sejam de tal modo. Mas o script da vida não nos foi dado de uma vez. Ele vem em doses diárias.
Ela. Bela e simpática. Defeitos? Tem-nos. Não é diferente de nós. Evidentemente, tem suas peculiaridades. É quando se diferencia. Assim é com todos. Somos diferentes, parecidos e até iguais. Tudo simultaneamente. Se assim não fosse, poderia ser que a convivência fosse mais tranqüila.
A história desta moça ilustra outras realidades. Mulheres que estão presas por um par de alianças. Ir embora. Sumir. Libertar-se. É esse o desejo dela e delas. Mas não é simples assim. O seu par possui uma severa dependência psicológica. Ele apenas se encontra na esposa. A ausência da mulher significaria sua inexistência. É como decretar sua morte com o corpo presente...
A mulher casa-se. Chora lá na cerimônia. Acha tudo lindo. Padres reclamam que os noivos preocupam-se mais com o glamour do que com o significado religioso do matrimônio. Mas este vai além disso. Não se trata aqui de Vontades. O que se tem é algo absurdamente delicado: a felicidade de duas pessoas e daquelas que serão geradas. Portanto, o passo para o casamento não pode ser vacilante. Tampouco displicente.
O dia-a-dia. A rotina. Cuida do marido. Tem também o filho. A emoção já não existe mais. Paixão findou-se. Tesão deixou de acontecer. É um passar de dias cinza. Um sonhar com o inesperado. E enganar-se mutuamente. Quem sabe fingir que está tudo bem.
Para quem está do lado de lá. Simplicidade na opinião. Separa-se e pronto, tudo resolvido. Cada uma para seu canto. Vida nova. Mas a prisão vai além das alianças. Existem componentes psicológicos que os unem. E este aprisionamento é o mais sério. Pensem na pessoa que só existe na outra. Sua alma já não tem cor. Nem mesmo o cinza da tristeza. Se o outro se for é o fim...
“Madame Bovary”, de Gustave Flaubert. Uma grande obra literária. A personagem aborrecida pelo casamento e pela vida provinciana. O ódio que ela deposita em seu marido. O olhar vazio. A tristeza interna. Ausência de emoções, prazeres da carne e da alma. O desejo incontido de amar, apaixonar-se, entregar-se para um homem que a faça mulher de verdade. Quantas mulheres por aí são personagens de Flaubert?
Façamos justiça. Homens frustrados também existem. É a displicência no ato. O não tratamento do matrimônio como algo absolutamente delicado. Casar por convenção social. Fazer o que todos fazem. Há uniões que deram certo? Sim, sem dúvida! Felizmente! Se é a maioria ou minoria, não sei ao certo. Bom, talvez eu tenha uma opinião e não queira dizê-la. O tédio que observo em tantos casais constrói o que penso.
A personagem do texto. Uma mulher muito desejada. Cheia de amor para dar. Uma libido extraordinária. E agora? Prosseguirá esta mulher se aviltando noites e dias? Será que ela busca sua liberdade? Carrega consigo o medo da separação? Pensa apenas na outra parte? Anula-se? É vítima ou vilã de si?
Enfim, não creio ter conseguido inundar olhos. Mas certamente gerei identificação. Fica este texto para tantas mulheres que seguem infelizes no casamento. Que não tem no parceiro a aventura de viver a dois. Que hoje flertam com o tédio e a indiferença. Que quando juraram seu amor, traíram a si mesmas. E mesmo que tivessem ouvido Raul, possivelmente, teriam dado o passo. Que hoje se mostra assim: em falso.