O meu Natal...

Pois…

Não há muito para contar, e esta deve ser a primeira vez que o descrevo…Vantagens de poder escrever livremente na net…

Posso falar em 2 Natais…

Aquele desde que nasci e até à altura dos 18 anos, altura em que me tornei agnóstico, este primeiro Natal foi porventura o mais religioso:

1- Havia o que há em todos os Natais portugueses, como o montar mágico do Presépio que incluía uma ida ao campo com o meu avô buscar um musgo lindo, lindo como só Ele sabia escolher; depois o presépio em si e as velhas figuras que tinham vindo do tempo em que os meus pais ainda não tinham filhos, figuras aumentadas em número quando se partia uma, ou pura e simplesmente se comprava outra porque a achávamos bonita. Não era um grande presépio, era o nosso e isso tornava-o para mim o mais bonito de todos.

Depois havia o pinheiro…sabiamente cortado nas terras do meu avô por ele, com um cuidado ecológico desconhecido naquela altura, e só cortado se não fizesse falta ao meio onde se inseria…Gostava, confesso, mais de montar o pinheiro do que o presépio, adorava o seu erguer lento e seguro, até que por fim colocávamos a estrela no seu topo e acendíamos as luzes, mágico, divinamente mágico!

Depois as prendas…abertas religiosamente no dia 25. Para mim não havia prendas más ou boas, todas eram excelentes pelo simples facto de as receber e também de as poder dar.

O almoço era em casa dos meus avós, altura em que se reunia a família mais próxima, um ritual de anos a fio de que nunca me cansei e de que hoje sinto umas saudades que nem queiram imaginar…

Aliado a isto tudo estava a minha religiosidade que emprestava um cunho único e místico ao Natal.

Depois vem o segundo Natal, aquele que medeia entre os meus 18 anos e a actualidade:

2 – Aos 18 anos deixei de ser crente e a coisa perdeu parte da piada pois entretanto deixáramos de fazer o Presépio e passámos a comprar uma árvore de plástico, pois entretanto o meu avô morreu e ir à procura de um pinheiro deixou de fazer sentido, pelo menos para mim…

Fora isso a rotina descrita acima manteve-se até à morte da minha avó, matriarca familiar que nos deixou oito anos depois do seu querido e estimado marido.

Nessa altura o almoço passou ou a ser em minha casa ou na casa de uns tios, deixando quase intacta a tradição, se bem que o vazio da morte dos meus avós ainda hoje me custa a colmatar…

Entretanto foram nascendo as minhas sobrinhas e, quase em simultâneo, voltei a acreditar em Deus. Posso dizer que foi um segundo fôlego, pois a magia do Natal voltou, o presépio também, mas desta vez montado pelas cachopas, na tal magia geracional que regressou intacta, uma espécie de passar de testemunho que me deixa imensamente feliz, especialmente quando vejo nos olhos e sorrisos delas a mesma expressão que eu tinha e que perdi com o correr dos tempos.

Sou um homem religioso, católico, mas para mim a faceta de Cristo na qual acredito é a sua faceta histórica e social, a mensagem que ainda hoje é intemporal, embora a sua mortalidade e milagres me levantem duvidas, embora me considere um Cristão pois parte da mensagem que conheço de Cristo identifico-a comigo.

O que interessa no Natal é a partilha, é o estar entre a minha família nuclear, os meus primeiros e melhores amigos, e isto sei que ainda irá durar imenso tempo, pois entretanto a família cresceu e as crianças de hoje serão aquelas que amanhã me irão olhar como uma espécie de avô, mantendo-se a tradição e preservando o legado que vem do principio dos meus tempos e dos tempos que me precederam, um legado de paz, amor, partilha de laços inquebrantáveis dos quais sou hoje um dos detentores, à altura dessa enorme mas honrosa tarefa.

Ah!

E a figura do Pai Natal?

Não, nunca lhe demos grande importância, antes pelo contrário, e só agora com o nascimento das minhas sobrinhas é que temos mais ou menos institucionalizada a figura do Pai Natal, que as miúdas adoram, quer na forma de boneco, quer na num de nós disfarçado do dito Pai Natal.

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 04/12/2008
Reeditado em 04/12/2008
Código do texto: T1318012
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